Pesquisadores da USP: Leilão de petróleo ao lado de Abrolhos ignora ciência
Artigo afirma que a decisão do governo brasileiro é apenas mais um caso onde a ciência é negligenciada e o posicionamento dos analistas ambientais é ignorado.
No dia 10 de Outubro, 17 empresas credenciadas pelo governo irão participar de um leilão de blocos para exploração de petróleo e gás na costa brasileira, com exceção da Etauna e Petrobrás, todas as inscritas são de origem estrangeira.
Serão ofertados 36 blocos nas bacias sedimentares marítimas de Pernambuco-Paraíba, Jacuípe, Camamu-Almada, Campos e Santos totalizando 29,3 mil km² de área. Entre todos, os mais preocupantes são os blocos oferecidos na bacia de Camamu-Almada, no litoral da Bahia, devido à proximidade com o banco de corais de Abrolhos, considerado um dos maiores bancos de corais do mundo, e principal região de biodiversidade marinha do planeta.
Um artigo assinado por Leandra Gonçalves, pesquisadora de pós-doutorado no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), e Ricardo Baleiro, doutor em planejamento energético (USP), afirma que a decisão do Governo Brasileiro é apenas mais um caso onde a ciência é negligenciada e o posicionamento dos analistas ambientais é ignorado. Além disso, a decisão reduz a participação social, enfraquece as instituições e, mais uma vez, fragiliza a democracia.
Em caso de acidente com derramamento de óleo, corais serão colocados em risco, diversas espécies ameaçadas de extinção, e toda economia da pesca artesanal e o turismo da região, principais fonte de renda para mais de 100 mil pessoas na região, serão comprometidos.
Os manguezais são outro ecossistema muito presente e de grande importância ao longo do litoral da região, especialmente na Bahia. São ecossistemas considerados berçários da vida marinha e possuem grande produtividade, sendo fundamentais para a produção pesqueira artesanal na região. Possuem, também, papel importantíssimo na absorção de carbono da atmosfera e na proteção da linha de costa contra tempestades e inundações, sendo cruciais para enfrentar a crise climática que vivemos.
Assim como os recifes de corais, são ecossistemas de grande sensibilidade aos vazamentos de óleo no mar, podendo nunca se recuperar de acidentes de maiores proporções.