Pesquisa apresenta a importância da compra de alimentos agroecológicos para a alimentação escolar
A proposta do Comida de Verdade é analisar o desenvolvimento do Pnae, buscando entender os desafios, os avanços e as inovações na sua implementação.
O projeto Comida de Verdade nas Escolas do Campo e da Cidade é uma iniciativa de pesquisa que tem como objetivo investigar a inclusão de produtos da agricultura familiar e agroecológicos na alimentação escolar brasileira, conforme um dos critérios de aquisição estabelecidos no Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). A pesquisa-ação sobre experiências de acesso ao Pnae é coordenada pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e pelo Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN), em colaboração com redes de agroecologia em nove municípios brasileiros.
A proposta do Comida de Verdade é analisar casos de desenvolvimento do Pnae, buscando compreender os desafios, avanços e inovações em sua implementação, tanto na perspectiva das organizações da agricultura familiar quanto dos gestores públicos. Para isso, serão sistematizados nove estudos de casos realizados em sete municípios dos estados da Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Pernambuco, Paraná e Rio de Janeiro.
O estudo está sendo realizado em colaboração com atores locais, como a comunidade escolar, agricultores/as familiares e suas organizações, gestores/as públicos/as e funcionários/as da administração pública envolvidos/as com a execução do Pnae. Espera-se esclarecer três questões: como ocorre a compra e venda dos produtos da agricultura familiar; quais são os obstáculos enfrentados e como estão sendo superados; e que estratégias estão sendo adotadas para fortalecer a agroecologia nos territórios e qualificar as compras.
Foram observadas mudanças significativas em cada uma das cidades estudadas, tais como: em São João das Missões, no semiárido mineiro, uma aldeia indígena substituiu os refrigerantes por polpas de sucos de frutas nativas; em São João do Triunfo, no Paraná, a diversidade de alimentos foi ampliada, com a inclusão no cardápio escolar de 67 gêneros alimentícios orgânicos oriundos da agricultura familiar, totalizando cerca de 50 toneladas.
No Mato Grosso, no município de Pontes e Lacerda, uma associação voltada para o abastecimento de escolas com produtos da agricultura familiar, como frutas, farinha de mandioca, pães e biscoitos enriquecidos com farinha de babaçu, pequi e cumbaru, registrou um aumento de cerca de 40% em sua renda e abriu um novo mercado, passando a entregar cestas para consumidores solidários em Cuiabá, utilizando os meios de transporte já utilizados para a entrega dos alimentos nas escolas.
Em Remanso, na Bahia, um grupo de mulheres pescadoras artesanais introduziu na merenda escolar espécies de peixes como pescada, tilápia, tucunaré e cari como filé, mas também em outras formas com maior durabilidade: conserva (peixe cozido em molho de tomate), linguiça, almôndega e hambúrguer de pescado. Além de introduzir essas espécies no cardápio, aumentando a variedade nutricional, a trajetória de fornecimento do pescado artesanal para a alimentação escolar estimulou a estruturação e o fortalecimento das ações deste grupo de mulheres, assim como a valorização da identidade cultural e alimentar local.
Correção: Também foi possível identificar a organização de grupos produtivos e o diálogo da sociedade civil organizada com gestores públicos. Segundo Morgana Maselli, integrante da Secretaria Executiva da ANA e do Grupo de Trabalho (GT) de Metodologia da pesquisa-ação, a iniciativa analisou como as experiências de aquisição e fornecimento de alimentos da agricultura familiar para o Pnae podem fomentar a agroecologia nos territórios e promover processos organizativos, além de incentivar ações de educação e comunicação. “É importante dar visibilidade aos benefícios da agroecologia na promoção da alimentação saudável e na interação entre campo e cidade”, explicou.
As experiências de aquisição de alimentos agroecológicos e da agricultura familiar na alimentação escolar analisadas estão disponíveis para consulta na plataforma digital Agroecologia em Rede