O presidente eleito do Uruguai, Yamandú Orsi, anunciou sua equipe em etapas. Na Secretaria de Direitos Humanos, que opera sob a órbita da Presidência, nomeou uma ativista trans, que se tornou a primeira a alcançar um cargo de hierarquia na história do país.

A ativista Collette Spinetti estará à frente da pasta. “Agradecida e emocionada pela confiança depositada pelo presidente eleito, Yamandú Orsi, para ocupar o cargo de secretária de Direitos Humanos da Presidência da República”, escreveu na rede social X. “Avançaremos rumo a um país que promova e respeite os direitos humanos de todas as pessoas. Sabemos que cumpriremos!”, continuou.

Em entrevista ao La Diaria, a futura dirigente afirmou sentir uma “grande responsabilidade” por ser a primeira mulher trans a ocupar esse cargo em um país com 200 anos de história. “Não é que chegou uma: quando chega uma, chegamos todas, todos e todes, e isso marca um precedente. Espero que muitas companheiras, companheiros e companheires também possam estar nesses espaços de decisão”, declarou ao meio de comunicação uruguaio, utilizando a chamada linguagem inclusiva.

A ativista também é professora de literatura e dança. Até quinta-feira, foi presidente do Coletivo Trans do Uruguai, mas sua militância também se estendeu para além do país: foi presidente do Comitê Diretivo Trans da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Trans e Intersex (ILGA Mundo) e secretária-geral da Corpora en Libertad, uma rede que trabalha com pessoas LGBT em situação de prisão.

Spinetti continuará exercendo os dois cargos nos organismos internacionais, pois, segundo explicou, eles não geram nenhum conflito de interesse, ao contrário do que ocorre com o órgão uruguaio.

O coletivo trans uruguaio também celebrou a nomeação de Orsi, considerando-a um “marco histórico” que representa um “avanço na política uruguaia”, um “reconhecimento” e a “inclusão do movimento dissidente”. “É um momento inesquecível e cheio de significado, pois, pela primeira vez, uma pessoa trans, uma mulher trans, ocupa um cargo tão relevante dentro do âmbito político em nosso país. Esse fato nos mostra que estamos avançando rumo a uma sociedade mais justa e equitativa, onde todas as vozes sejam ouvidas e valorizadas”. “A nomeação de Collette é a prova do árduo trabalho que realizamos e da luta constante pelos direitos humanos e pela igualdade”, destacou o coletivo.

Spinetti assegurou que sua prioridade será trabalhar com a sociedade civil, que tem um papel “muito importante” dentro do Estado. Adiantou que atuará em “contínuo diálogo e acordo com instituições do Estado”, assim como com organismos internacionais como as Nações Unidas, a OEA e o Mercosul.

Sua gestão estará focada em “dar visibilidade à secretaria” para que a população tenha clareza sobre “quais são suas funções, seus objetivos, suas metas, o que é feito e o que não pode ser feito”, ressaltou.