
Peça “Névoa”, em cartaz em SP, expõe marcas do bullying em pessoas LGBTQIA+
Espetáculo segue temporada até 14 de maio no Teatro Sério Cardoso
Por Luiz Vieira
Um estudo recente da Pesquisa Nacional sobre o Bullying no Ambiente Educacional Brasileiro mostra que, somente em 2024, nove a cada dez estudantes adolescentes LGBTs afirmam ter sofrido ou sido vítimas de algum tipo de violência psíquica ou física na escola. Mas este não é um problema característico da sociedade brasileira, até porque ele é global. Em cartaz no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, o espetáculo “Névoa – From White Plains” busca esmiuçar os motivos que ainda levam a comunidade LGBTQIAP+ a ser é o principal alvo deste tipo de crime no Brasil e no mundo.
A montagem soa como uma provocação para a frase: para um bom entendedor, meia palavra basta? Fazer bullying é errado, mas por que ele ainda existe na sociedade? E por que ele ainda é mais acentuado contra pessoas LGBTs? Como a sociedade moldou os seus costumes e por que ainda hoje não avançamos nessa questão da diversidade dentro das escolas? Na peça, o personagem Dennis é um cineasta que, ao ganhar um Oscar, denuncia publicamente um ex-colega por bullying homofóbico contra seu amigo, desencadeando um cancelamento devastador nas redes sociais. A peça mistura humor ácido e drama para explorar os impactos do bullying e o preço do cancelamento na vida de ambos.
O texto é do dramaturgo e diretor norte-americano Michael Perlman. É importante ressaltar que os Estados Unidos da América (EUA) foi palco de grandes revoluções do movimento queer. A revolução de Stonewall (1969), por exemplo, é considerada o marco zero da luta pelos direitos da comunidade arco-íris no mundo. Marco na luta, também, na luta pelos Direitos Humanos.
Para entender melhor do que se trata a peça que está em cartaz em São Paulo às terças e quartas até o dia 14 de maio no Teatro Sérgio Cardoso, hoje vamos conversar com o ator Felipe Hintze, um dos protagonistas da comovente montagem. A direção da peça é de Lavínia Pannunzio, e além de Felipe, também compõe o elenco os atores Felipe Ramos, Fernando Billy e Fernando Vitor.

Com vocês, Felipe Hintze:
1 – Por que montar essa peça em 2025?
Porque a névoa está mais atual do que nunca. A potência desse texto mesclado com o olhar da direção de Lavínia Pannunzio mostra a urgência de abordar esses assuntos.
Em 2025, seguimos tateando verdades escondidas, afetos abafados e histórias que ainda precisam ser ditas em voz alta. A cultura do cancelamento, o combate ao bullying nas escolas, a homofobia são assuntos que permeiam a realidade da nossa sociedade. Colocar tudo isso em pauta no palco é uma forma de dar luz e solução para esses problemas. A peça vem como farol para lembrar que enquanto houver opressão, a arte segue sendo resistência. Além de tudo isso, a peça se propõe a contar uma boa história. O público se encanta com os personagens, torce, vibra, se emociona.
2 – Das histórias que se contam, nem sempre conseguimos prestar atenção em todos os detalhes. O que em “Névoa” o público não pode deixar passar despercebido?
Névoa é uma peça com uma dialética muito forte. Os personagens falam seus posicionamentos de forma muito clara e contundente. O confronto de ideias opostas sobre um assunto eleva o nível das discussões e das verdades absolutas. Quando o público se permite a ouvir os dois lados e abrir para mudanças de conceitos e pensamentos, mudar de ideia sobre algum convicção, olhar por um outro ponto de vista e deixar a empatia se manifestar, o frase que falamos tanto na peça “se coloque no meu lugar” faz o objetivo da peça se concretizar.
3 – Qual conselho você daria para jovens LGBTs que estejam passando por algum tipo de violência/bullying no ambiente escolar?
Primeiro: a culpa nunca é sua. Nunca. Segundo: sua existência é potência, mesmo quando o mundo te faz acreditar no contrário. Busque apoio, fale com alguém, denuncie (homofobia é crime), procure espaços seguros.

4 – E nas redes sociais, como esses jovens podem ficar longe dos gatilhos?
É difícil fugir quando você está tão imerso no sistema. Sair totalmente das redes sociais hoje é quase impossível. Temos que estar sempre atentos com os algoritmos. Tentar seguir quem te inspira, quem te faz rir, quem te faz sentir menos só. Se a internet pesar, se permita respirar fora dela, trabalhar fora dela. Cuidar da sua saúde mental. Fazer terapia. Buscar refúgio nos livros e na vida off-line.
5 – Qual legado vocês querem deixar com essa montagem?
Acolhimento e combate ao bullying e a homofobia. Quando você assiste uma peça onde você vê a sua existência ser representada, você se sente acolhido de uma forma absoluta. E, o contrário, quando uma pessoa que não é da comunidade, por exemplo, assiste essa realidade e é capaz de se emocionar com uma história que não é sua, estamos tornando uma realidade menos homofóbica. Nossas plateias não podem ter ideologia, todos são bem vindos, assim o pensamento se eleva e a nossa sociedade cresce como um todo. A arte é instrumento de salvação, transformação e conhecimento.
Névoa – From White Plains
Até 14 de maio
Às terças e quartas-feiras, às 19h
Teatro Sérgio Cardoso – Sala Paschoal Carlos Magno
Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista
Gênero: Comédia Dramática
Duração: 80 minutos
Classificação etária: 12 anos
Capacidade da Sala: 143 lugares + 6 espaços de cadeirantes
Ingressos: R$ 50,00 | R$ 25,00 (meia) | Sympla
Bilheteria: de terça a domingo, das 14h às 19h
NÃO HAVERÁ ESPETÁCULO NO DIA 06/05
Ficha Técnica
Texto: Michael Perlmann
Tradução: Jorge Minicelli
Direção: Lavínia Pannunzio
Elenco: Felipe Hintze, Felipe Ramos, Fernando Billi E Fernando Vitor
Assistência de Direção: Mariana Leme
Cenografia: Mira Andrade
Figurinos: Felipe Hintze
Iluminação: Aline Santini
Sonoplastia: Rafael Thomazini
Fotografias: Leekyung Kim
Programação Visual: Deko Melo
Captação de Imagens: Rafael Thomazini
Redes Sociais: Vitor Julian
Operação de Luz: Claudio Gutierres
Técnico de Palco: Sergio Sasso
Assessoria de Imprensa: Vicente Negrão Assessoria
Assistência de Produção: Vitor Julian
Direção de Produção e Administração: Maurício Inafre
Produção: Uma Arte Produções Artísticas