Pataxós sofrem impacto e resistem à lama de rejeitos em Brumadinho
O crime ambiental atingiu diretamente a rotina de preservação ambiental e resistência étnica da comunidade.
À beira do Rio Paraopeba encontra-se a aldeia indígena Nao Xoha, pertencente à etnia Pataxó. O crime ambiental decorrente do rompimento da barragem em Brumadinho atingiu diretamente a rotina de preservação ambiental e resistência étnica da comunidade. Atualmente, a aldeia é liderada pelo Cacique Raiô e a Vice-Cacique Werymerry, estes que visam alarmar a sociedade e o governo sobre a necessidade de providências e reparações emergenciais e de longo prazo para todas as vítimas do crime.
Para a comunidade, a contaminação do Rio Paraopeba pela lama de rejeitos provenientes das atividades da Vale repercute não apenas as gravíssimas questões ambientais. A Vice-Cacique aponta preocupação com fatores emocionais, afetivos e de subsistência do povo Pataxó que ali reside.
Ao passo de que há em torno do tema a urgência de reparação sócio-econômica, Werymerry enfatiza que as águas que ali passavam representavam a essência da vida dos Pataxós: “afastados do mundo digital, onde pessoas mantém relações pessoais distantes, nós tínhamos o rio como um meio de socialização diária, celebração de nossas festividades e rituais, além de nos alimentarmos do que a natureza nos oferecia em abundância ali.”
Já a indígena Ongorrô convoca a sociedade brasileira para se posicionar firmemente perante a situação ambiental no Brasil, ela diz:
“É necessário que os povos defendam suas matas, rios e animais. O governo deve agir para nos proteger desses crimes anunciados, do contrário iremos beber garrafinhas de minério e não de água no futuro”.
Ao longo do dia, a comunidade recebeu com enorme gratidão doações de diversas entidades, como um grupo de direito sócio-ambiental da Universidade de Pernambuco (UPE). No entanto, a consternação em ver dezenas de quilos de peixe mortos e a inexistência água para cultivo de alimentos, trouxe ao povo a sensação de que até que haja alguma solução definitiva, eles não poderão prover sua subsistência com autonomia.
O cacique Raiô ressalta que essas novas dificuldades apenas vem para somar à difícil rotina da comunidade, que luta também para receber apoio na área de saúde. Recentemente, um dos membros da comunidade teve que esperar 4 horas para que uma equipe de saúde pudesse resgatá-lo na aldeia e prestar o devido atendimento, infelizmente esta demora foi fator definitivo para que ele viesse a falecer.
Ainda sob esse grande cenário de dificuldades e enfrentamentos, os Pataxó deixam claro que serão resistência e se articulam para que suas demandas sejam atendidas com compromisso pelo governo e pela Vale. Nas palavras do Cacique Raiô:
“Nós não sairemos daqui enquanto nossa vida como vida em comunidade não for restabelecida e pudermos viver com a dignidade que merecemos.”
Para a comunidade resistir e sobreviver para preservar sua história e o meio ambiente são sua missão, e com o intuito de fortalecer suas ações de luta pelos povos indígenas, a Vice-Cacique Werymerry que em abril receberá seu diploma de bacharelado em Administração, se prepara para iniciar o curso de Direito. Assim, estarei apta para enfrentar as adversidades não só do dia-a-dia em minha comunidade, mas em outros cenários que demandam participação indígena em busca de nossos direitos, como essa situação de crime que enfrentamos agora, ela diz.