Por Vitor Lobão* 

Partida de Vôlei à Sombra do Vulcão, exibido na Mostra Competitiva Minas da última edição do FestCurtasBH, é uma obra de 39 minutos com direção de Fernanda Vianna e Clarissa Campolina e dramaturgia de Silvia Gomes. É uma peça-filme do Grupo Galpão e faz parte de um projeto do grupo de 2021 chamado Dramaturgia: cinco passagens para o agora. A obra foi inicialmente pensada de forma improvisada devido às circunstâncias do momento pandêmico do Covid-19, mas, depois, foi melhor estruturada e se tornou o resultado magistral de esforços combinados.

O teatro de tela conta a jornada de uma mulher que vive em meio a frustrações e que, ao descobrir sobre a erupção de um vulcão, decide viajar rumo às entranhas do planeta e ao encontro da sua fúria. Na viagem, porém, ela acaba por desvendar a sua própria intensidade. O trajeto de autoconhecimento é complexificado pelo fato de que a personagem principal é interpretada por muitos atores diferentes, que simbolizam as diversas fragmentações e aspectos da sua personalidade. Com essa estratégia, temos a impressão de que a realidade, muitas vezes, se transforma subjetivamente, em uma mistura constante de sensações interiores. A cena final representa de forma brilhante essa concepção ao filmar todos os atores e atrizes de forma breve e borrada, de modo que as imagens vão se complementando até que todas as pessoas se tornem uma. A proposta de trabalhar com vários personagens, tanto homens quanto mulheres, para representar uma única pessoa, joga com conceitos da sociedade e se utiliza de mistificações para inverter sentidos e até proporcionar alívio cômico, por exemplo, ao mostrar homens em situações socialmente atreladas ao feminino.

A peça-filme também possui uma conotação política bem significante, levantando a indagação sobre a situação deteriorante no Brasil e a aversão à passividade por parte dos cidadãos e artistas do país, principalmente das mulheres. Essa metáfora é bem expressiva no final do curta metragem, quando a personagem principal, após visitar o vulcão, está no aeroporto fazendo o check-in para retornar ao Brasil, mas o seu mundo vira de cabeça para baixo quando o atendente avisa que o seu país de origem está se desmanchando e não existe mais, impossibilitando a sua volta. Esse momento é marcante e, apesar de proporcionar grande reflexão sobre a situação que estamos vivenciando no Brasil, também gera uma das cenas mais cômicas do filme, quando a mulher indignada organiza um chilique publicamente e exige retornar, ironizando a barreira de idiomas e quebrando padrões comportamentais.

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*Aluno do curso de Cinema da PUC Minas – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; Cobertura colaborativa do 25º FestCurtasBH.

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