Por: Júlia Rodrigues

Uma nova ambição acompanha os Jogos Olímpicos de Paris 2024: ser a edição mais responsável econômica, social e ambientalmente da história. A poucos dias do início, vamos explorar quais iniciativas foram implementadas para que essa meta seja cumprida e como elas impactarão a experiência dos atletas e espectadores durante o período olímpico.

Atualmente, vivendo em um contexto onde os impactos causados pela interferência humana no meio ambiente são cada vez maiores, tornou-se inviável falar sobre a estrutura de grandes eventos sem questionar as ações de sustentabilidade que os organizadores se preocupam em adotar. Neste quesito, é preciso reconhecer a importância de um evento de tamanho alcance como as Olimpíadas em abordar pautas ecológicas e ser exemplo para todos que consumirão o espetáculo.

Diante deste contexto, a intenção do Comitê Olímpico Internacional (COI), em primeiro lugar, é emitir menos da metade dos gases de efeito estufa dos Jogos de 2012 em Londres. Considerada a “primeira olimpíada sustentável”, naquele ano houve uma redução de 58% nas emissões de carbono derivadas das operações de construção do Parque Olímpico, ao mesmo tempo em que 98,5% do resíduo de demolição e 99% do resíduo de construção do Parque foram reciclados.

Para o presente e futuro próximo, o plano adotado pelo Comitê Olímpico se compromete em trabalhar na redução de 30% nas emissões de carbono na edição de 2024 e, até 2030, aumentar essa redução para 50%. Eles também se planejam para compensar 100% das emissões residuais, que não podem ser evitadas, por meio de um projeto de reflorestamento.

Dessa forma, para garantir que as metas estipuladas sejam alcançadas, o COI se empenhou em identificar as principais fontes de emissão de carbono e reduzir os efeitos causados. Assim, determinou três pontos principais a serem trabalhados: a logística dos jogos, a construção dos locais de provas e o transporte de delegações, colaboradores e público.

Como resultado, diversas medidas foram adotadas, tais como:

  • Instalação de painéis solares para eliminar geradores a diesel;
  • Plantação de árvores para amenizar o calor do verão;
  • Despoluição do rio Sena;
  • Reutilização de estruturas de outros eventos;
  • Criação de mais ciclovias e extensão das linhas de trem;
  • Aproveitamento de materiais oriundos de reciclagem.

Além disso, a complexa logística de um evento como as Olimpíadas envolve aspectos como preparação, acomodação e transporte de alimentação. A seguir, entenda um pouco mais sobre cada um desses pilares.

As mudanças sustentáveis na estrutura do evento

Toda a estrutura organizada para os Jogos Olímpicos de Paris 2024 é exemplar no quesito sustentabilidade. Afinal, 95% das locações são reutilizadas ou construídas temporariamente para o evento, podendo ser desmontadas e os materiais reutilizados em outros lugares após os jogos. Também presentes em pontos turísticos como a Torre Eiffel, as infraestruturas temporárias permitem uma economia considerável tanto durante a construção quanto na manutenção após o evento.

Do mesmo modo, nos edifícios construídos para as Olimpíadas foram utilizados menos cimento e mais madeira. Eles possuem painéis solares e vegetação nos telhados, e serão reaproveitados pelos moradores locais após os jogos.

Igualmente, na construção do Centro Aquático, local para as competições de nado sincronizado, polo aquático e salto ornamental, foram utilizados materiais eco-friendly e instalados mais de 5.000 metros quadrados de painéis solares no telhado.

Já na Vila Olímpica, os edifícios que abrigarão os atletas incluem materiais reciclados e utilizam uma variante de concreto que emite menos CO2. A água utilizada nos sanitários será proveniente da chuva, tratada e reutilizada para irrigar os jardins da vila.

Por outro lado, a decisão de não instalar ar condicionado nos cômodos causou controvérsia. Ainda que a organização tenha garantido que a temperatura interna será 6°C mais baixa do que a externa nas acomodações, países como Brasil, Alemanha, Estados Unidos e Japão tomaram a iniciativa de fornecer seus próprios sistemas de ar condicionado para os atletas. Como resultado, devido à pressão das delegações, foi anunciado que 2.500 aparelhos serão disponibilizados pelo comitê organizador, o que também gerou críticas.

Em contrapartida, foi firmado com a concessionária de energia local para garantir a disponibilidade de energia eólica e solar suficiente na rede durante a competição, tanto nas acomodações quanto nos locais de prova. Assim, todas as arenas estarão ligadas a uma rede elétrica local, abastecida por seis parques eólicos e duas usinas solares da empresa EDF (Électricité de France). A iluminação dos estádios utilizará luzes LED, que consomem menos energia.

Por último, também é preciso ressaltar que até os pódios foram construídos com plástico renovável. Ao final das Olimpíadas, eles também serão reutilizados.

As práticas eco-friendly relacionadas aos atletas

As práticas de sustentabilidade não se resumem somente às mudanças estruturais do evento. Para a edição de Paris 2024, a organização estabeleceu medidas que afetam os atletas, principalmente relacionadas à alimentação.

Nestas Olimpíadas, o cardápio foi planejado para emitir menos poluentes. Por isso, contará com 60% das refeições à base de plantas, com mais vegetais e menos carnes. Além disso, a Vila Olímpica contará com coolers geotérmicos, para reduzir as altas temperaturas do verão francês.

Ainda falando de alimentação, iniciativas serão adotadas para garantir a quantidade de comida exata e evitar o desperdício, visando o gasto máximo de 1kg de CO2 por porção de alimento servido. Todo um cuidado também foi dedicado na produção das embalagens, de modo que elas não causem impacto ambiental.

Novas possibilidades de locomoção

Em grandes eventos, é comum que a organização amplie a oferta de modais de transporte para facilitar o deslocamento do público até os locais das competições. Com o compromisso de manter as metas de emissões, a organização de Paris 2024 decidiu que todos os locais de competição serão acessíveis por transporte público. Além disso, a frota de ônibus de Paris é movida a eletricidade ou gás natural.

Ademais, serão disponibilizados 60 quilômetros de ciclovias por toda a cidade, proporcionando ao público a opção de se locomover de bicicleta.

Em suma, todas as ações desenvolvidas pelo COI para Paris 2024 indicam que estamos prestes a acompanhar a edição mais sustentável dos Jogos Olímpicos até agora. E, levando em consideração os planos para 2030, este é só o começo.