Por Maria Clara Tavares e Patricia Stanquevisch, para Cobertura Colaborativa #NECParis2024

O Parasurf, modalidade paralímpica do surfe, ainda não faz parte dos Jogos Paralímpicos, mas seu impacto no cenário esportivo é inegável. No Campeonato Nacional de Cabedelo e Porto de Galinhas, realizado em agosto de 2024, os atletas surpreenderam com grandes performances, e Ingrid Medina se destacou, conquistando o título na categoria PS-VI 1, para pessoas com deficiência visual nível B1 (que podem contar com um guia). Com essa vitória, Ingrid garantiu sua vaga no Campeonato Mundial de Parasurf California 2024, que ocorrerá em novembro.

Foto: Reprodução/Instagram

A Experiência de Ingrid Medina

Ingrid, agora campeã brasileira, compartilhou sua experiência ao competir no difícil mar de Cabedelo:


“Fiquei muito feliz, o mar de lá é bem difícil para surfar e eu fui sozinha. Tive que fazer toda uma relação com a pessoa que ia ser minha guia. Quebrei vários paradigmas meus para conseguir… e consegui! Mais feliz ainda por garantir minha vaga para o Mundial.”

A Importância do Guia

O papel do guia é fundamental para atletas como Ingrid. No PS-VI 1, a orientação do guia deve ser exclusivamente verbal, sem toque, para evitar a desclassificação:


“Cada categoria tem um jeito. Na minha, em campeonatos oficiais, o guia não pode me tocar. Ele precisa me dizer: ‘Rema para direita, rema para esquerda. Tá vindo uma onda grande, se joga ou tenta furar a onda’. O guia é meus olhos no mar.”
Ingrid ainda enfrenta o desafio de encontrar um guia fixo para treinos regulares, o que dificulta sua preparação. Recentemente, ela competiu com Andreia Lopes, campeã da década de 90, que a ajudará também no Mundial. “Infelizmente, no cotidiano é difícil encontrar alguém fixo para treinar comigo”, compartilhou.

Foto: Reprodução/Instagram

A Primeira Experiência com o Surfe

Ingrid relembra com carinho sua primeira vez no surfe, quando um amigo a convidou para participar de um projeto chamado “Surf sem Fronteiras”:


“Eu achava que não conseguiria surfar. Fui totalmente cética. Uma das voluntárias me explicou os movimentos na areia, e depois na prancha. No mar, rodeada de gente me auxiliando, consegui surfar pela primeira vez. Hoje, só preciso do meu guia. Já uso uma prancha menor, mas a primeira experiência foi muito especial.”

A Conexão com o Mar

Ingrid desenvolveu uma forte conexão com o mar:
“Já pratiquei outros esportes, como goalball, natação e atletismo, mas o mar me chamou. Me sinto em casa. O surfe é minha paixão.”

Vídeo: Reprodução/Instagram

O Reconhecimento como Atleta Profissional

Foi durante o campeonato de Cabedelo que Ingrid se reconheceu como atleta profissional de surfe:


“Agora sei que tenho uma responsabilidade nas minhas mãos. A representatividade é muito importante. Ser mulher em um esporte ainda dominado por homens já é um desafio, mas ser uma mulher com deficiência é ainda maior. Espero que outras meninas olhem para mim e vejam que é possível surfar, que elas também podem.”

Expectativas para o Mundial

Com o Mundial se aproximando, Ingrid está focada em representar o Brasil e buscar uma medalha:


“Minha expectativa é grande, principalmente de trazer uma medalha. A atual campeã sempre foi a única, ninguém a superou ainda, mas vou tentar. Também quero aumentar a visibilidade do parasurfe e conseguir patrocínios para que possamos estar nas Paralimpíadas de 2028.”

Desafios e a Falta de Apoio

Apesar do talento e das conquistas, Ingrid ainda enfrenta a falta de patrocínios:


“As Paralimpíadas são um pouco deixadas de lado. O Brasil é uma potência, mas a visibilidade é muito pequena. Muitos atletas vão para mundiais por conta própria, sem apoio. Estamos lutando!”

Atualmente, Ingrid não possui patrocinadores, e há uma campanha em andamento para arrecadar fundos para ajudá-la com os custos do Mundial. Clique aqui para acessar a Vakinha de Ingrid Medina.

Parasurf e as Paralimpíadas de Los Angeles 2028

Infelizmente, o Comitê Paralímpico Internacional não incluiu o Parasurf como modalidade nos Jogos Paralímpicos de Los Angeles 2028. A Confederação Brasileira de Surfe (CBSurf) iniciou uma petição para reverter essa decisão e garantir a presença da modalidade nas próximas edições.

Ingrid reflete sobre essa exclusão:


“Acredito que a questão seja a adaptação do espaço, já que nem toda praia é acessível para pessoas com deficiência. Mas eles esquecem que não precisa ser no mesmo local das Olimpíadas. O Parasurf tem potencial para estar nas Paralimpíadas, e nós estamos torcendo para que isso aconteça em 2028.”

A Classificação do Parasurf

O Parasurf tem oito classes esportivas, conforme o tipo de deficiência de cada atleta:

  • Parasurf Stand 1, 2 e 3 (PS-S1, PS-S2 e PS-S3): para surfistas que ficam de pé na prancha, com baixa estatura, amputações, ou diferenças no tamanho das pernas;
  • Parasurf Sit (PS-S): para aqueles que ficam sentados na prancha e remam sozinhos;
  • Parasurf Kneel (PS-K): para atletas que ficam ajoelhados ou sentados na prancha;
  • Parasurf Prone 1 e 2 (PS-P1 e PS-P2): para surfistas que ficam de bruços;
  • Parasurf Visual 1 e 2 (PS-VI 1 e PS-VI 2): para pessoas com deficiência visual;
  • Parasurf Surdo e Mudo;
  • Parasurf Síndrome de Down;
  • Parasurf Autista.

Com tanto talento e determinação, atletas como Ingrid continuam a batalhar por um futuro onde o Parasurf receba a visibilidade e o apoio que merece.