Para evitar queda na Bolsa, Vale recompra ações e ignora indenizações de vítimas de Brumadinho
Desde 2010, a Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale tem atuado para responsabilizar a empresa por violações de direitos humanos e ambientais
Na assembleia realizada nesta sexta-feira (26), acionistas críticos da Vale levantaram preocupações sobre os R$ 73,5 bilhões investidos pela mineradora em recompra de ações, em contraposição ao pagamento das indenizações pendentes relacionadas ao rompimento da barragem em Brumadinho.
Desde 2021, a Vale canalizou expressivos recursos na recompra de suas próprias ações, buscando estabilizar seu valor no mercado acionário. Contudo, esse montante supera em quase o dobro o total destinado pela Justiça para compensar as vítimas da tragédia em Brumadinho e para a restauração ambiental.
O acordo judicial estabeleceu um valor de R$ 37 bilhões para reparar os danos causados pelo desastre em Brumadinho. No entanto, apenas R$ 26,4 bilhões foram desembolsados até o momento, deixando um déficit de R$ 11,13 bilhões. Essa disparidade entre os investimentos em recompra de ações e os pagamentos de indenização foi duramente questionada pelos acionistas críticos durante a assembleia.
Além das questões financeiras, os acionistas também destacaram preocupações sobre a segurança das comunidades afetadas pelas operações da Vale. A persistência de barragens em condições críticas na região de Brumadinho e a falta de transparência da empresa em relação aos riscos ambientais e à saúde das populações locais foram temas recorrentes.
Fernanda Martins, secretária-executiva da Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale, enfatizou a desconexão entre a narrativa apresentada pela empresa aos investidores e a realidade enfrentada pelas comunidades impactadas. Ela ressaltou a importância dos acionistas olharem para além dos relatórios corporativos e exigirem responsabilização pelos danos causados.
Outra preocupação levantada pelos acionistas críticos foi a falta de transparência da Vale em relação aos acidentes ocorridos em suas operações. Apesar de relatar 105 acidentes no ano passado, resultando em 11 mortes, a empresa não forneceu detalhes sobre as medidas de segurança adotadas nem sobre como esses incidentes são comunicados às autoridades reguladoras.
A criação da holding Vale Base Metals (VBM) para liderar o mercado de produção de baterias para veículos também foi questionada, especialmente devido aos impactos ambientais negativos associados a operações semelhantes da Vale em outras partes do mundo.
Os acionistas críticos votaram pela rejeição do relatório da empresa, das contas da administração e das demonstrações financeiras referentes ao ano de 2023, citando violações dos princípios da boa-fé e da transparência, assim como o descumprimento de compromissos firmados com órgãos reguladores e a sociedade civil.
Desde 2010, a Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale tem atuado para responsabilizar a empresa por violações de direitos humanos e ambientais, utilizando estratégias de contra-narrativa durante as assembleias de acionistas.
A Vale não respondeu aos questionamentos levantados durante a assembleia. A falta de diálogo e transparência por parte da empresa continua gerando preocupações entre investidores e comunidades afetadas, destacando a necessidade urgente de uma abordagem mais responsável e sustentável por parte da mineradora, afirmam as vítimas.