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Pampa perdeu 3,4 milhões de hectares de vegetação, cerca de 29% da cobertura nativa
O Pampa perdeu impressionantes 3,4 milhões de hectares de vegetação nativa, representando uma perda de 29,5%
Por Walisson Rodrigues, de Recife (PE)
Um bioma brasileiro crucial está enfrentando sérias ameaças: o Pampa. Localizado no extremo sul do país, esse ecossistema único vem sofrendo os impactos devastadores do avanço do agronegócio e da pecuária, que estão fragmentando e degradando suas terras, colocando em risco sua rica biodiversidade e os modos de vida das comunidades locais. Dados alarmantes revelam a extensão do problema: entre 1985 e 2021, o Pampa perdeu impressionantes 3,4 milhões de hectares de vegetação nativa, representando uma perda de 29,5% de sua cobertura vegetal original. Essa é a maior proporção de desmatamento entre todos os biomas brasileiros nesse período.
Além dos impactos do desmatamento, o Pampa também está sofrendo com os efeitos das mudanças climáticas, intensificadas pelo avanço descontrolado do agronegócio. Enchentes devastadoras atingiram o Rio Grande do Sul, resultando em mais de 100 mortes e deixando mais de 300 pessoas desaparecidas. Surpreendentemente, a causa dessas enchentes não foi apenas o volume de chuvas, mas sim as mudanças no padrão climático, amplificadas pelas práticas insustentáveis adotadas na região.
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Do norte ao sul do Brasil, os biomas vêm sofrendo ataques do agronegócio de forma espoliadora e cruel, impulsionados pelo avanço desenfreado do capitalismo. Essa voracidade tem desencadeado uma série de crimes ambientais que vêm transformando drasticamente a paisagem e impactando severamente a vida selvagem e as comunidades locais.
Os principais responsáveis por essa devastação são o cultivo de soja e a silvicultura, que estão transformando vastas extensões de campos nativos em monoculturas e plantações de árvores. Essas atividades estão comprometendo não apenas a paisagem do Pampa, mas também sua rica biodiversidade, uma vez que o bioma abriga uma das maiores diversidades de espécies por metro quadrado do Brasil.
Dia do Fogo
Um dos episódios mais emblemáticos dessa impunidade na Amazônia foi o chamado “Dia do Fogo”, em 2019. Em apenas dois dias, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) detectou 1.457 focos de calor no estado do Pará, um aumento alarmante de 1.923% em relação ao ano anterior. Esse evento demonstrou a audácia dos infratores e a urgente necessidade de medidas mais eficazes para proteger a Amazônia e outros biomas do Brasil.
Calor extremo
Na Amazônia, um dos biomas mais ricos em biodiversidade do planeta, os sinais alarmantes dos efeitos do desmatamento e da mudança climática estão se tornando cada vez mais evidentes. No ano de 2023, um evento trágico chocou o país: o aquecimento das águas dos rios na Amazônia resultou na morte de aproximadamente 150 botos cor-de-rosa.
Pesquisadores apontaram que a temperatura da água atingiu incríveis 40ºC no pico das mortes, em 29 de setembro, deixando milhares de famílias sem acesso a água potável por dias a fio. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) alertou que a combinação de calor e seca histórica estava provocando não apenas a morte dos botos, mas também de peixes e outros mamíferos na região.
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Os números do desmatamento na Amazônia são igualmente assustadores. De acordo com dados do Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (Prodes), entre agosto de 2022 e julho de 2023, a floresta perdeu uma área de 9.001 km², o equivalente a 7,5 vezes a cidade do Rio de Janeiro. Esse desmatamento desenfreado está levando a Amazônia cada vez mais próximo de um ponto de não retorno, onde ela não será mais capaz de se regenerar como uma floresta tropical.
A fraca fiscalização e a impunidade contribuem para o avanço do desmatamento. Dos alertas de desmatamento na Amazônia emitidos entre 2019 e 2020 pela plataforma MapBiomas, apenas 1,3% foram fiscalizados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Esses números refletem o enfraquecimento das políticas ambientais no país e abrem espaço para mais crimes ambientais.
Desafios
Ao observar os demais biomas brasileiros – Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal – torna-se evidente o crescimento dos crimes ambientais. Um exemplo disso é o Cerrado, em que desmatamento aumentou quase 50% e atingiu níveis recordes, sublinhando a urgência de conter a devastação. O desmatamento ilegal na Caatinga empobrece o solo, provoca o assoreamento dos rios e elimina o habitat de diversos animais silvestres.
Diante das duas tragédias ambientais ocorridas em um intervalo tão curto, na Amazônia e no Pampa, é inegável que enfrentamos desafios significativos. Esses eventos nos compeliram a questionar profundamente o papel do capitalismo em nossa sociedade. Precisamos refletir sobre se esse modo de produção está realmente pavimentando o caminho para um futuro sustentável ou se está, na verdade, nos conduzindo ao desastre
De acordo com os especialistas, o tempo para ação é agora. É consenso entre cientistas e moradores atingidos que se deve buscar alternativas e implementar mudanças que garantam a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade de nosso planeta, pois a continuidade das tragédias ambientais só nos alerta para a urgência de repensar nossos sistemas econômicos e promover uma coexistência mais equilibrada entre a atividade humana e o meio ambiente.