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Oscar e cinema brasileiro: como evitar outro hiato de 20 anos?
Talento não falta; mas sem investimento e estratégia, continuaremos na disputa só a cada duas décadas.
Por Debora Rossetto
Como o Brasil pode manter uma frequência no Oscar, e não ir só a cada 20 anos?
O Brasil tem um histórico marcante no Oscar, mas com longos intervalos entre seus momentos de destaque. Em 1999, ‘Central do Brasil’ emocionou o mundo e garantiu indicações em duas categorias principais. Agora, em 2025, ‘Ainda Estou Aqui’ quebra um jejum de mais de duas décadas e volta a colocar nosso cinema no radar da maior premiação do mundo. Mas por que esse intervalo tão grande? O que falta para o Brasil conquistar uma presença mais constante no Oscar?
Um histórico de brilho, mas sem continuidade
Nossa trajetória na premiação já teve momentos inesquecíveis. ‘Central do Brasil’ trouxe a inesquecível indicação de Fernanda Montenegro, tornando-se um marco na história do país na premiação. Em 2004, ‘Cidade de Deus’ conseguiu o feito raro de ser indicado em quatro categorias, mesmo sem ter sido o escolhido do Brasil na época. Esses sucessos, no entanto, não se transformaram em uma presença regular na disputa, deixando um vácuo de reconhecimento internacional.
Os desafios que afastam o Brasil do Oscar
Um dos principais obstáculos é a falta de investimento estratégico. O Oscar não é apenas uma premiação artística, mas também um grande jogo político e publicitário. Filmes indicados contam com campanhas milionárias de divulgação, feitas por distribuidoras experientes, que sabem como posicioná-los no mercado internacional. O Brasil, muitas vezes, envia filmes sem um plano estruturado de campanha, o que reduz suas chances de serem lembrados pelos votantes.
Além disso, o cinema brasileiro enfrenta dificuldades no próprio país, e muito disso se deve à falta de políticas públicas voltadas ao setor. O desmonte de incentivos culturais, cortes em editais e a instabilidade nos investimentos governamentais afetam diretamente a produção e distribuição de filmes. Sem apoio financeiro, cineastas brasileiros têm dificuldades para concluir projetos, inscrevê-los em festivais internacionais e garantir uma boa circulação de suas obras no exterior.
A negligência com o setor cultural não é de hoje. Apesar de períodos de maior incentivo, a cultura no Brasil sempre esteve à mercê de decisões políticas, sendo alvo de cortes e desvalorização, especialmente nos últimos anos. Enquanto países como França e Coreia do Sul tratam o cinema como parte essencial de sua identidade e economia, o Brasil ainda enfrenta resistência para garantir que seu audiovisual receba o suporte necessário para competir de igual para igual no cenário internacional.
O que pode mudar esse cenário?
Para que o Brasil mantenha uma presença mais constante no Oscar, algumas estratégias precisam ser adotadas:
1. Políticas públicas consistentes para o audiovisual – Investimentos contínuos, editais transparentes e incentivos fiscais são essenciais para que a produção cinematográfica nacional cresça e tenha condições de competir internacionalmente.
2. Investimento estratégico em campanhas internacionais – Não basta apenas produzir bons filmes; é essencial investir na divulgação e lobby necessários para que eles cheguem aos votantes da Academia.
3. Parcerias com distribuidoras internacionais – Ter apoio de empresas que conhecem o caminho para o Oscar pode fazer a diferença na hora de posicionar nossos filmes na disputa.
4. Fortalecimento da indústria nacional – Um mercado interno forte, onde o público valoriza e consome produções nacionais, cria um ambiente propício para o crescimento do cinema brasileiro.
5. Participação ativa em festivais internacionais – Cannes, Berlim, Veneza e outros festivais são vitrines fundamentais para que o cinema brasileiro ganhe visibilidade e chegue ao Oscar com mais força.
Se quisermos evitar um novo hiato de 20 anos, é preciso tratar a presença brasileira no Oscar como um objetivo de longo prazo, e não como uma surpresa esporádica. O talento e a criatividade dos nossos cineastas já foram comprovados inúmeras vezes. O que falta é transformar esse brilho ocasional em uma constância, e isso só será possível com um compromisso real com o audiovisual nacional.
Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.