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Oscar 2025: ‘Robô Selvagem’, uma fábula cibernética de pertencimento
Entre as animações, ‘Robô Selvagem’ se destaca como uma aventura vibrante e acessível, cativando crianças e adultos.
Por Hyader Epaminondas
Sob a direção de Chris Sanders, Robô Selvagem, com uma história simples entrega uma estética deslumbrante, quase hipnótica, que transforma cada quadro em uma verdadeira pintura em movimento. Com um equilíbrio entre aventura e sensibilidade, o longa se firma como um dos grandes concorrentes ao Oscar de Melhor Animação em 2025. A beleza estética impressiona, mas é a dublagem, entregue por um elenco de peso, que verdadeiramente dá alma à obra.
Com vozes que transbordam emoção, os dubladores insuflam vida aos personagens, transformando figuras de construção simples em seres carregados de significados profundos em seus arquétipos próprios. O coração da história pulsa com a mesma intensidade, garantindo que Robô Selvagem não seja apenas um filme bonito de se ver, mas também um daqueles que permanecem conosco muito depois dos créditos finais.
Lupita Nyong’o dá voz à protagonista Roz, uma robô que está em constante busca por uma tarefa, mas ao despertar em uma ilha sem humanos, precisa aprender a interagir com o ambiente e seus habitantes. Sua atuação é um dos maiores trunfos do filme, conferindo à personagem uma humanidade palpável por meio de nuances vocais que evoluem junto com sua jornada. O elenco de apoio brilha em sintonia, com cada personagem enriquecendo a trajetória de autodescobrimento de Roz. Pedro Pascal se destaca como Fink, uma raposa astuta e sarcástica que se torna o parceiro de cena ideal para Lupita. A interpretação de Pascal faz um passeio emocional fascinante, transicionando de uma solidão gélida e impenetrável para o calor acolhedor de uma família que o recebe com os braços abertos.
Sua performance é um jogo de contraste, onde a rigidez mecânica de Roz ganha vida através do seu carisma que é ao mesmo tempo malicioso e espirituoso, criando uma dinâmica sutil e cativante entre esse casal nada convencional. A raposa Fink, com sua pelagem laranja radiante, reflete essa jornada de transformação, mesclando a cena com uma cor e calor que contrastam e, ao mesmo tempo, complementam a frieza inicial de sua personagem.
Completando esse trio central, Kit Connor dá vida ao órfão Bico-Vivo, imbuindo o personagem com uma leveza e sensibilidade que equilibram as tensões emocionais da trama, trazendo uma inocência genuína, mas também uma sabedoria sutil que se revela ao longo das interações com os outros personagens, definitivamente o coração do trio protagonista, com sua presença oferecendo não apenas conforto, mas também uma perspectiva sobre o processo de transformação e auto descoberta de seus pais, Roz e Fink.
Ao lado do trio, foi preciso um elenco de peso com Mark Hamill, Bill Nighy, Stephanie Hsu e Ving Rhames para temperar com carinho a aventura dessa grande família, adicionando camadas expressivas e de perspectivas diferentes, equilibrando seus elementos e texturas que tornam cada interação ainda mais envolvente.
Sua narrativa explora a maternidade e o senso de comunidade de forma sensível e quase educativa, acompanhando a própria descoberta da protagonista sobre esses temas. A jornada de Roz, ao assumir o papel de mãe para um filhote de ganso órfão, evidencia que os laços familiares não se definem pelo sangue, mas pelo cuidado e pela conexão genuína. Conforme a história avança, a coletividade se estabelece como um pilar essencial, oferecendo uma reflexão pertinente em tempos marcados pelo individualismo.
AQUARELA EM MOVIMENTO: A PALETA VIBRANTE QUE DÁ VIDA ÀO MUNDO DE ROZ
A animação abraça um estilo que remete a ilustrações feitas à mão, com texturas visíveis que simulam pinceladas delicadas, quase como se a tinta ainda estivesse secando sobre a tela. As cores vibram com uma intensidade controlada, oscilando entre tons suaves e explosões de luminosidade conforme a ambientação exige. O céu, por exemplo, não é um simples degradê digital, mas um emaranhado de matizes que se fundem como aquarela dissolvendo-se na água, criando paisagens dinâmicas e etéreas.
A flora da ilha onde Roz desperta é um espetáculo à parte. As folhas das árvores não se limitam a uma única tonalidade de verde, mas ganham nuances variadas que simulam o reflexo da luz, como se capturadas pelo olhar de um pintor impressionista. A textura sutil de cada elemento dá profundidade ao cenário, tornando-o quase palpável. Quando a chuva cai, ela não apenas molha o ambiente, mas parece diluir as cores de forma orgânica, como se as gotas interagem com a tinta viva do mundo.E no centro desse universo visualmente arrebatador, Roz se move com uma fluidez encantadora. Seu design metálico, ao contrário do que se espera de um robô rígido, se integra harmoniosamente ao mundo ao seu redor. Com cada detalhe pensado para criar uma fusão entre o artificial e o natural, Robô Selvagem, se firma como um dos filmes mais artisticamente ambiciosos do ano, provando que a animação não precisa apenas contar uma história, mas também ser uma experiência estética inesquecível.
Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.