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Oscar 2025: Animação rompe monopólios e se abre para produções independentes e internacionais
De ‘O Menino e o Mundo’ até ‘Flow’, o Oscar de ‘Melhor Animação’ já tem a diversidade que a Academia tanto procura.
Por Guilherme Veiga
Shrek, Jimmy Neutron, Monstros S.A.: DreamWorks, Paramount e Disney/Pixar. Assim se formava a line-up da primeira disputa na categoria de Melhor Animação, lá em 2002. O número reduzido de três produções provavelmente se deve ao fato de a categoria ser nova ou até mesmo por falta de curadoria (nota-se que são todas americanas). Mas, por ironia do destino, esse trio fazia referência às três ocasiões anteriores em que o Oscar reconheceu animações — Branca de Neve e os Sete Anões (1938), Uma Cilada para Roger Rabbit (1988) e Toy Story (1995) — ainda que de forma honorária.
Porém, no ano seguinte, a categoria parecia tomar outros rumos. O lendário Estúdio Ghibli, que há décadas impactava o gênero, chegou com A Viagem de Chihiro para desbancar seus concorrentes estadunidenses. No entanto, essa esperança logo perdeu força. De 2004 a 2022, todos os ganhadores foram majoritariamente americanos, com a grande maioria das estatuetas indo para as mãos da Disney.
Mas já se sabe que, em uma premiação feita por e para americanos, o caminho de uma produção internacional — ou que não pertença aos grandes monopólios — é extremamente mais complicado. Por isso, nesse caso, o número de estatuetas não é tão relevante quanto a lista de indicados. Um dos efeitos negativos de estar inserido em um monopólio, como é o caso da indústria da animação, é a falta de diversidade. Com a Academia padronizando o número de competidores para cinco, logo não havia como preencher a categoria exclusivamente com os estúdios para os quais esse prêmio foi originalmente pensado.
Isso abriu espaço para outras produções, e o holofote que a premiação proporciona é, por vezes, muito mais importante do que a própria estatueta. Foi por meio dessa visibilidade que o público pôde descobrir o francês Persépolis (2009), o brasileiro O Menino e o Mundo (2016) ou o norueguês Flee (2022). Mesmo sem chegarem ao palco como vencedores, esses filmes, por serem novidade, atraem olhares para novas formas de consumir o gênero, indo além dos enlatados de fórmulas repetitivas e produção industrial das terras do Tio Sam.
Desde a criação da categoria, 11 nacionalidades diferentes e 30 produções fora do eixo americano foram indicadas. Para efeito de comparação, se analisarmos a categoria de Melhor Filme no mesmo período, há nove nacionalidades diferentes e 22 filmes indicados. E, se considerarmos apenas obras sem qualquer interferência americana, esse número cai para cinco.
A edição de 2025 marca a segunda vez em que a maioria dos indicados na categoria de Melhor Animação vem de fora dos EUA. Esse fenômeno reflete não apenas a saturação do mercado americano, que insiste em continuações desnecessárias e peca na inclusão, mas também o crescimento de um público que se educa cinematograficamente além dos limites estadunidenses. Cada vez mais, espectadores se abrem para produções independentes e internacionais, distanciando-se do modelo engessado de consumir animação.
Claro que a luta contra as grandes corporações ainda é árdua. Empresas como Disney e DreamWorks detêm um poder imenso e não hesitam em impô-lo. No entanto, ao observarmos os indicados a Melhor Animação, o futuro parece mais promissor — e, na mesma medida, mais colorido.
Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.