Por Marcos Maia

O mar de gente que ocupa o trajeto da BR-316 rumo a Belém, dias antes do festejo do Círio de Nazaré, espalha por onde passa o acolhimento, a fé e a persistência para cumprir com suas promessas feitas a Nossa Senhora de Nazaré.

As longas caminhadas que antecedem as festividades do Círio, saem de diversos interiores do estado do Pará e criam uma atmosfera mariana que invade o coração dos paraenses e transforma as estradas em longas pistas de adoração e devoção.

A manifestação começa muito antes de chegar na Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré, perpassa por diversas igrejas ao longo do caminho e principalmente em pontos de acolhimento destinados a acolher, ajudar, alimentar e dar força aos romeiros, essa atividade é chamada de “Acolhida dos romeiros” e envolve altruísmo e compaixão com o próximo ao oferecer serviços necessários para ajudar essa caminhada.

Caminhando por longas distâncias, passando por temperaturas altas pelo dia e atravessando a escuridão da noite na beira de uma pista, as motivações dos romeiros podem ser infinitas, e realizadas de diversas formas, como a pé, com bicicletas, de joelhos e até dançando. Neste momento particular de encontro com o sagrado, os peregrinos percorrem as ruas com terços na mão, pés enfaixados, chapéus e a blusa estampada com a imagem de Nossa senhora de Nazaré.

A Acolhida que impulsiona o romeiro

A acolhida dos romeiros nasce do voluntariado de comunidades, que podem ou não está envolvidas com a religião, que realizam o trabalho de compaixão e empatia com o próximo. Essa época do ano é conhecida principalmente pela generosidade e amparo que a comunidade realiza, todos estão juntos nessa caminhada, seja ajudando com um copo de água ou andando, a fé move o povo.

Para Grazielly Pires, coordenadora do ponto 12 de acolhida aos romeiros, feito pela pastoral da acolhida da Paróquia Menino Deus localizada no município Marituba, o trabalho voluntário realizado para receber os romeiros é uma doação que fortifica a alma e amplifica a fé, o amor e a compaixão.

A voluntária conta que ao buscar doações de frutas na casa de uma colaboradora ouviu que “o dinheiro, ele compra o que a gente quiser, ele compra coisas boas, compra coisas ruins. A gente doa investimentos, doa dinheiro, doa frutas, coisas que a gente pode comprar, vocês doam algo que não volta nunca, que é o tempo”. Grazielly diz que essa fala lhe chamou atenção porque nunca havia parado para pensar e refletir dessa forma. O ponto de acolhimento em que ela atua é conhecido pelo protagonismo jovem em prol do trabalho voluntário.

A Diretoria de Festa de Nazaré organiza os pontos oficiais de acolhida dos romeiros, verificando as instalações para acolhimento e segurança, cadastrando os pontos, entre outros serviços para garantir a organização, segurança e apoio digno aos romeiros.

Tatiane Freitas, da Diretoria da Festa de Nazaré, relata a importância das ações feitas para os peregrinos de Nazaré. “Oficializar os pontos de apoio não é só uma questão de organização, é sobre amor, cuidado e fé. Cada ponto é um pedaço do caminho onde o peregrino encontra descanso, acolhimento e a presença de Nossa Senhora”, relata a diretora.

Os peregrinos levam imagens de pedidos conquistados como casas, barcos, imagens de cera que remetem a partes do corpo antes enfermo e agora curado, e há também quem leve seus filhos para agradecer a prosperidade e a realização do desejo de gerar e ter um filho.

Para Nadine Silva, estudante de fisioterapia, caminhar até a basílica tornou-se parte de sua vida, onde caminha até a igreja rogando pela saúde de seus filhos, Gael e Guilherme: “É o segundo ano que eu venho pagando promessa pela saúde dos meus filhos e o sentimento só é de gratidão. Eu costumo dizer que eu já vivo um milagre. Então, eu só busco agradecer”, afirma a mãe que carrega o nome dos filhos estampados em sua camisa.

O Círio rompe as barreiras das religiões e acolhe a todos aqueles que abrem o coração e se permitem sentir a energia. Não somente católicos participam da maior manifestação cultural do Brasil, como é o caso de Ana Almeida, servidora pública municipal de Belém que relata que, mesmo que seja espírita, a celebração a Nazaré vai além das barreiras religiosas.

“Mesmo eu não sendo católica, sou espírita, mas eu sinto que o Círio de Nazaré, ele é uma reunião da espiritualidade. Quando a gente fala, quando a gente sente essa energia, a gente se emociona. Mesmo não sendo católica, desde muito tempo eu acredito nesse poder de Maria”. Relata a romeira que vem do município de Castanhal de bicicleta e celebra com muita alegria a conquista de chegar até seu destino final.

Fafá de Belém relata em suas palavras na canção “Eu sou de lá” que nenhuma explicação sabe explicar: “é muito mais que ver um mar de gente nas ruas de Belém a festejar”. O coração paraense é preenchido pelo espírito de bondade e compaixão, “Juntar o santo e o pecador num mesmo céu” é o que liberta os corações daqueles que esperam um ano inteiro para reencontrar sua mãe, a Nazinha.