por Jorge Fagundes

Barcarena, no Pará, é um território marcado por uma longa história de resistência, onde a vida das comunidades tradicionais tem sido profundamente afetada pela ação de grandes mineradoras multinacionais. A cidade, importante pólo minerador da região amazônica, enfrenta uma difícil realidade imposta pela exploração do meio ambiente, que tem transformado o que antes era um cenário de natureza abundante em lembranças dolorosas.

A denúncia veio à tona com o “Toxic Tour Barcarena – Territórios em Resistência à Mineração”, uma iniciativa que levou jornalistas, ativistas e membros da sociedade civil para testemunhar os impactos socioambientais causados por empresas como Hydro e Imerys/Artemyn. Essas companhias são responsáveis por eventos gravíssimos, dentre eles, pelo menos quatro vazamentos de lama vermelha tóxica que, em anos como 2003, 2009 e 2018, contaminaram rios, igarapés e terras cultiváveis, essenciais para a sobrevivência das comunidades ribeirinhas e quilombolas.

Bacias de rejeitos da Hydro. Foto: Jorge Fagundes

O modelo de desenvolvimento dominante tem imposto à região um ciclo de degradação permanente. Em Barcarena, vivem aproximadamente 140 mil pessoas, que sofrem diariamente com a poluição do ar, causada por nuvens de fuligem e fumaça tóxica. A contaminação da água potável os obriga a depender de carros-pipa, já que os rios estão cheios de metais pesados e resíduos químicos usados no beneficiamento da bauxita e do caulim. Esse processo tem causado sérios problemas de saúde, incluindo aumento dos casos de câncer, doenças de pele e problemas estomacais.

Além dos impactos ambientais e sanitários, as comunidades perderam seus modos tradicionais de vida. A pesca, agricultura e coleta, fontes de alimento e renda, foram profundamente afetadas. Muitos desses moradores relatam sensação de perda, dor e ansiedade, vivendo agora das memórias de um passado em que a natureza era generosa e abundante.

O “Toxic Tour” não é apenas um passeio, mas um ato político e uma forma de denúncia contra um modelo econômico que prioriza o lucro em detrimento da vida e do meio ambiente. Entre os crimes ambientais cometidos pelas mineradoras, estão a poluição constante, o transbordamento de rejeitos tóxicos, o uso excessivo da água e o desrespeito aos direitos das populações tradicionais.

Território Tauá, que é afetado Imerys/Artemyn, quanto pela Hydro. Foto: Jorge Fagundes

Este território sob ameaça se prepara para um momento crucial de visibilidade global com a realização da COP30 em Belém, onde as comunidades afetadas esperam que as vozes das vítimas e os fatos documentados sejam reconhecidos e atendidos. O desafio é grande, pois não se trata apenas de reparar danos, mas de garantir o direito ao futuro, preservando o meio ambiente para as próximas gerações.

Barcarena é, assim, um símbolo do que está em jogo em toda a Amazônia: o direito à terra, à água limpa e a uma vida digna diante da pressão incessante do capitalismo extrativista. Enquanto grandes empresas mantêm sua lógica de exploração, a população resiste, vivendo as memórias do passado e lutando por justiça ambiental no presente.