Os erros que levaram à eliminação da seleção masculina de vôlei
Seleção masculina de vôlei se despede de Paris nas quartas de final.
Por Andressa Simões, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
Barcelona 1992, Atenas 2004, Rio de Janeiro 2016. Em todas essas três edições de Jogos Olímpicos, o Brasil foi ouro com a seleção masculina de vôlei. Em Paris 2024, a equipe não chegou nem perto disso e nem de Los Angeles 1984, Pequim 2008 e Londres 2012, anos em que o time foi medalha de prata.
O que foi visto no torneio de vôlei masculino das Olimpíadas de Paris foi um desempenho bem abaixo do comum apresentado pelo time de Bernardinho. De 4 jogos, a equipe ganhou apenas um: do Egito, a seleção mais fraca do grupo.
O time do Brasil se classificou como um dos melhores terceiros colocados, mas não passou muito disso. Logo na primeira fase do mata-mata, as quartas de final, foi eliminado por 3×1 para os Estados Unidos. É a primeira vez em 24 anos que o Brasil fica fora das semifinais do vôlei masculino.
Retrospecto
Após a disputa do pré-olímpico em outubro de 2023, Renan Dal Zotto, técnico que estava à frente da seleção masculina de vôlei, deixou o cargo para priorizar sua saúde física e mental. Na competição, o time garantiu a vaga em Paris 2024 apenas no último jogo, quando ganhou da Itália por 3×2 no Maracanãzinho lotado. Com a saída de Renan, Bernardinho assumiu o posto e a responsabilidade de liderar a equipe rumo ao pódio pela quinta vez.
A primeira missão desse ciclo com Bernardo Rezende à frente foi a Liga das Nações, ocorrida no primeiro semestre de 2024 como forma de preparação para os Jogos Olímpicos. No torneio, o time foi eliminado nas quartas de final para a Polônia, demonstrando já um desempenho abaixo do esperado.
Convocação para Paris 2024: falta de renovação
Na lista de convocados para a disputa dos Jogos Olímpicos, Bernardinho apostou em nomes experientes e já conhecidos há tempos pela nação brasileira, em detrimento da renovação. Entre eles, destacam-se Lucão e Bruninho, ambos de 38 anos.
A média de idade dos jogadores que compunham o plantel convocado para 2024 é de 30 anos. Dos 12 inscritos na lista, apenas três estão abaixo da casa dos 30: Fernando Cachopa (levantador), Darlan (oposto), Adriano (ponteiro) e Lukas Bergmann (ponteiro), o caçula, com 20 anos. Entre eles, apenas Darlan atuou como titular.
O central Lucão disputou esse ano a sua quarta olimpíada, estando na seleção desde os 19 anos. Já Bruninho foi para a sua quinta olimpíada. A titularidade do levantador vem sendo questionada desde o seu desempenho na Liga das Nações. A má fase de Bruno Rezende contrasta com o rápido crescimento e entrosamento com os atacantes de Cachopa, que ainda assim não foi escolhido para começar jogando pelo técnico Bernardinho.
Outro ponto a se levantar é a não convocação do central Judson. Com 25 anos, ele iria para a sua primeira olimpíada. O atleta, atuando pelo Suzano, foi o único não presente na final da Superliga 23/24 que entrou na seleção do campeonato, como melhor central. Judson participou do elenco que disputou a Liga das Nações.
Ainda sobre a posição de meio de rede, destaca-se que Isac, dono de um saque potente e de 2,08 metros de altura, não entrou em nenhum jogo do torneio olímpico. Isso ocorreu ainda no contexto observado de os centrais titulares, Flávio e Lucão, estarem tendo muitas dificuldades tanto no ataque quanto no bloqueio. Flávio ainda pecava muito no saque, o que poderia ter sido superado com a entrada de Isac no seu lugar.
Brasil x Estados Unidos: a partida da eliminação
No jogo válido pelas quartas de final, a primeira fase após a classificação em grupos, Bernardinho escalou o seguinte time como titular:
Levantador: Bruninho
Oposto: Darlan
Ponteiros: Leal e Lucarelli
Centrais: Flávio e Lucão
Líbero: Thales
O Brasil enfrentou uma seleção dos Estados Unidos com Christenson (levantador) e Anderson (oposto) em dias iluminados, o que complicou a vida da seleção brasileira. Além dos méritos da equipe americana, o time de Bernardinho se afundou ainda mais devido a erros sucessivos de saque, ataques com efetividade inconstante, falhas no bloqueio e, em alguns momentos, falta de lucidez dos levantadores.
Após perder o primeiro set, o Brasil se recuperou e ganhou o segundo em um eletrizante 30×28, mostrando uma ótima força de reação, motivada por mudanças realizadas por Bernardinho. O técnico colocou Alan no lugar de seu irmão, Darlan, no início do set. O oposto entrou ligado no jogo, contribuiu com pontos de ataque, “aces” (um saque que resulta imediatamente em ponto) e auxiliou nos bloqueios.
Bernardo Rezende realizou também uma troca de ponteiros: Adriano no lugar de Leal. O jogador de 22 anos, estreante em Olimpíadas, entrou com o intuito de reforçar o passe e a defesa, o que fez brilhantemente bem ao longo do confronto, além de ter virado importantes bolas.
Adriano, o quarto da esquerda para direita, e Alan, o quinto, saíram do banco e deram outra cara ao time do Brasil. Crédito: Reprodução/ Comitê Olímpico Brasileiro.
Após momentos de falta de lucidez de Bruninho, que vinha fazendo uma boa partida até então, Bernardinho o tirou para colocar Cachopa. O levantador conseguiu colocar os centrais para jogarem mais, dando mais dinamismo às jogadas brasileiras.
Apesar da relativa melhora da seleção brasileira com as mudanças promovidas por Bernardinho, o time não conseguiu superar os Estados Unidos, que fecharam o jogo em 3×1 (26 a 24, 28 a 30, 25 a 19 e 25 a 19). Alan, saindo do banco, foi o maior pontuador da equipe, com 16 pontos.
Sequências quebradas
Com a eliminação do Brasil nas quartas de final do torneio olímpico de vôlei masculino, é a primeira vez em 24 anos que o país não chega às semifinais. É também a primeira vez, contando participações como jogador e treinador, que Bernardinho vai para os Jogos Olímpicos e volta sem medalha.
Ao final da partida contra os Estados Unidos, Lucão, Bruninho e Leal afirmaram as suas aposentadorias da seleção brasileira. É mais um evidente sinal da necessidade de renovação da equipe.