Por Oscar Esteban Herrera Florez

Os dois primeiros anos do governo de Gustavo Petro na Colômbia chegaram ao fim, e o debate sobre como defini-lo foi intenso. Alguns o descreveram como progressista, de esquerda, de transição ou popular. Para além de qualquer classificação terminológica, o que é inegável é que este é o primeiro governo na história da Colômbia que se distanciou de ser uma ferramenta útil às intenções das elites para gerir sua riqueza dentro do marco dos benefícios do Estado e para encontrar, em todas as desigualdades existentes no país, uma forma de acumular rendas.

Essa é a grande diferença e a semente que o governo de Petro está plantando, abrindo novas portas para o que é possível na Colômbia e deixando claro aos cidadãos que as formas de governo das elites podem ser questionadas e substituídas por alternativas vindas dos setores populares, garantindo a busca de sua felicidade.

Este processo não foi um mar de rosas; houve altos e baixos, e, diante de cada ataque, algumas feridas permanecem. Mas também há lições populares a serem extraídas. O governo de Petro, como símbolo de esperança para superar a letargia e a apatia provocadas pelas expressões fascistas e aristocráticas que governaram até agora, teve seus claros e escuros. A ilusão que acompanhou a campanha elevou as expectativas, mas o país, que aguardava uma transformação, teve de presenciar cenas condenáveis.

Pode-se dizer que essas cenas e erros foram o resultado da tentativa do governo Petro de alcançar a tão almejada mudança no marco de um acordo nacional que reunisse diversas forças políticas em torno da tarefa de transformação. Após dois anos de governo, conclui-se que esse acordo foi rompido por algumas forças conservadoras, que desrespeitaram tanto a opinião pública quanto a sua própria palavra.

Isso se reflete em casos de corrupção, como o da Unidade de Gestão de Riscos e Desastres, onde “aliados” da direita desviaram o dinheiro destinado a saciar a sede de um povo que historicamente sofre com essa carência. Ou em ex-ministros, como Cecilia López, Alejandro Gaviria e outros oriundos de governos anteriores, que, após utilizarem seus cargos para reproduzir práticas e abordagens de direita, passaram a apoiar candidaturas presidenciais fundamentadas no descrédito das próprias entidades que lideraram.

Esse cenário afetou a popularidade do governo Petro, pois, por mais que se procure esclarecer os fatos, o que os cidadãos percebem é que houve corrupção em um governo que deveria ser a antítese da corrupção. Além disso, altos cargos foram ocupados por figuras que representam as velhas elites ou replicam suas práticas. Agora, uma direita que, devido à sua própria inépcia e falta de capacidade decisória, antes parecia estar em cuidados paliativos, respira novamente com vitalidade.

Se o que foi exposto anteriormente deixou uma acumulação de lições a serem aprendidas, também serviu de material para uma imprensa cada vez mais obsoleta, que se dedica a atacar o governo da mudança. Esta, nem lenta nem preguiçosa, tem se esforçado em amplificar essas notícias e criar mentiras, em vez de realizar uma avaliação criteriosa das conquistas alcançadas, muitas das quais são transformadoras e revolucionárias para a Colômbia.

Por isso, é imperativo utilizar este espaço, e tantos outros quanto for possível, para apresentar os elementos que estão consolidando a mudança na Colômbia, mostrando como ela tem amadurecido ao longo do tempo e começado a dar frutos. Um dos maiores medos incutidos pela direita era a ideia de que uma boa gestão econômica só poderia ser conduzida por eles, pois acreditavam, como proprietários de empresas e detentores do conhecimento do Estado, que apenas suas mãos eram capazes de liderá-la.

Pelo contrário, a tese do Presidente Petro tem sido a de que uma economia baseada no bem-estar social pode melhorar os indicadores macroeconômicos, estabilizá-los e refletir essas melhorias no bem-estar real dos colombianos. Um exemplo concreto da política macroeconômica de Petro é que a inflação em novembro foi de apenas 2,4% (Banco de la República), a mais baixa dos últimos 48 meses. Além disso, a projeção para 2024 é de apenas 5,3%, representando uma redução de 7,82% em relação aos 13,12% (Banco de la República) herdados do governo de direita de Iván Duque.

Ao mesmo tempo, com uma economia ativa e crescendo acima das expectativas, observa-se um impacto direto no emprego. O desemprego em novembro foi o mais baixo registrado desde 2016, situando-se em 8,2% (DANE), com benefícios particularmente significativos para mulheres e jovens. Esses dados não apenas diferenciam o governo Petro dos governos anteriores, mas também reafirmam a viabilidade de uma gestão econômica que coloca o bem-estar humano como motor principal do crescimento econômico.

Esse crescimento pode ser observado na vida real das pessoas, não apenas nas contas bancárias dos mega-ricos.Por exemplo, 2,5 milhões de pessoas deixaram para trás a insegurança alimentar (DANE), o que significa que a melhoria econômica está sendo refletida em mais pratos de comida nas mesas das famílias colombianas. Além disso, 1,6 milhões de pessoas saíram da pobreza monetária (DANE), comprovando que o crescimento econômico está fundamentado na melhoria do poder de compra da base da sociedade, e não apenas nas suas elites.

Ao contrário dos governos anteriores, que ignoravam que o crescimento econômico deveria resultar na melhoria dos rendimentos da população mais pobre e utilizavam o Estado para reduzir os salários reais, gerando lucros adicionais para os mais ricos através da diminuição do custo do trabalho, o governo Petro tomou uma direção oposta. Este governo aumentou o salário mínimo em percentuais históricos, superando os índices registrados nos últimos 24 anos. Os aumentos foram de 16% para 2023, 12,07% para 2024 e 9,54% para 2025.

Essa breve descrição das conquistas econômicas do governo Petro nos permite ultrapassar o nevoeiro criado pelos meios de comunicação tradicionais e compreender o caráter eminentemente popular deste governo. A esse balanço, somam-se diversos projetos e programas que prometem realizações significativas para os próximos dois anos, além de uma reviravolta de 180 graus na política colombiana e na concepção de gestão pública.

Entre os mais estruturais está a reforma agrária, que busca a redistribuição de terras e já atingiu números históricos, com um milhão e 240 mil hectares (ANT) entregues à população rural. Soma-se a isso a proteção do meio ambiente e da Amazônia, com uma redução histórica nos índices de desmatamento, que, em 2024, foram os mais baixos dos últimos 23 anos (MinAmbiente). Por fim, destaca-se a reforma previdenciária, que, a médio prazo, ampliará a cobertura para 87% da população em idade de aposentadoria, contrastando com o nível atual, que é de apenas 24%.

O primeiro governo colombiano a emergir das calçadas e dos bairros percorreu um caminho repleto de lições e desilusões. Depositou mais confiança do que deveria em setores que enxergam o país apenas como um espólio para enriquecerem pessoalmente e careceu de uma articulação mais forte com os movimentos sociais e os cidadãos comuns. No entanto, as marchas e a mobilização cidadã, impulsionadas pelos chamados do Presidente Petro às praças, podem refletir um impacto significativo no aperfeiçoamento da democracia, no bem-estar e na alegria de um país que ainda vive os seus “cem anos de solidão”.

O governo da mudança permitiu que a Colômbia se redescobrisse, ao moldar uma política que reflete a vontade popular em vez de desrespeitá-la. Agora, as marchas não giram em torno de mortes, mas das reformas sociais promovidas.

Ainda restam dois anos para semear as bases das próximas décadas de mudança na Colômbia. Que esses anos sejam proveitosos, para o bem das gerações futuras e para que os próximos séculos sejam marcados por transformações significativas no país.