Os altos e baixos de ser ansioso e torcer para o Brasil
A mente do ansioso pode funcionar sem descanso e é assim que a minha fica na hora que torço para o Brasil.
Por Paula Cunha, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
Rebeca assistiu ao jogo Brasil e Estados Unidos no vôlei, e isso só pode ser um bom sinal. O jogo começa com um ponto dos EUA. A comentarista fala: “O jogo começa do jeito que a gente espera, com os EUA jogando.” Eu não espero isso nada. Quem espera que o oponente faça um ponto logo no início? Os brasileiros são emocionais; não podem começar perdendo, pois isso abala o psicológico. Ouço a comentarista: “O Brasil não começa bem, o Brasil está ansioso.” Está vendo? Até as atletas de alto rendimento, que só fizeram jogão até agora, têm ansiedade.
Como elas se controlam nesta hora, quando tudo depende delas? Detesto bloqueio, e ouço: “O bloqueio dos EUA começa arrasador.” Por que eles não deixam o placar o tempo inteiro na tela, como acontece no futebol? Como saberei o que está acontecendo? Estou vibrando a cada ponto; desse jeito, não consigo chegar ao final do dia. Todas as finais do Brasil foram contra os EUA; isso é verdade? Então a final é agora. Com quem elas jogam se vencerem? Começo a procurar algo para ocupar a mente e não ter que assistir na tela o que acontece com o Brasil. Fez um ponto de bloqueio: “Vale por dois esse ponto de bloqueio, né?” 11 a 10.
Tem uma menina americana com o mesmo nome do diretor da escola dos Simpsons? Skinner, adorei; só não gostei mais do que Plummer. Uhul, Brasil empatou, Ana Cristina! Amo esse nome; tenho uma amiga de infância chamada Ana Cristina e ela não perde um jogo de tênis. “Ana Cristina sensacional, que ponto do Brasil.” O pai da Skinner era jogador da NBA e ela já fez 6 pontos no jogo. Tainara empatou e passou à frente com um bloqueio. Não acredito. Continuo só ouvindo o que acontece; Brasil faz 17 a 15.
Para mim, as regras mudam toda hora no vôlei. De tempos em tempos assisto e mudaram o jeito como pontua; eu acho que esse set vai até 25. O Brasil já fez 20 e está na frente. Tenho ultrassom de mama daqui a pouco. Ai, meu Deus, preciso pedir farmácia e fazer um café. Ponto americano. Talvez eu deva pensar no que posso comer, mas não quero comer nada. Elas vão perder esse set. Skinner jogou para o alto; elas fecharam o set, malditas. Alguém fala para o Medina ir embora, que ele está dando azar. Sábado o Brasil joga com os EUA de novo, no futebol. Tá bom, se ganhar, comerei um pão de queijo no laboratório. Hoje Paris virará baile. Ouço na Cazé TV: “É um jogo tenso, como faz para aliviar?” E alguém responde: “Sai gritando.” Não tenho voz para isso.
Esse zumbido é do meu ouvido ou está vindo da rua? O Brasil está na frente; os atletas na arquibancada batem palmas murchas, só Rayssa sorri. Por mim, podia acabar agora; no vôlei de praia não tem 3 sets. Ainda não tomei café da manhã e já é meio-dia. “Hoje Paris vai virar baile.” Ace! Brasil vai ganhar esse set; elas estão muito bem. Ponto pros EUA, a menina só ficou olhando a bola.
“O bom é a gente fechar com uma margem boa para manter a equipe americana acuada.” Elas fizeram dois pontos e eu me sinto acuada. Set point Brasil, fechamos. Toco minha corneta; é festa, vamos que vamos. Fui ao banheiro sem o celular. Os EUA estão na frente no terceiro set. Disseram que o time está desconcentrado, e meu computador está dizendo que está sem memória. Amigo, o que vou fazer sem você? Sempre que vou ao laboratório, visto a mesma camiseta porque isso me acalma. Juntar jogo de semifinal com essas americanas no dia do meu exame semestral é esticar bem meu elástico emocional. Mas vai ficar tudo bem. Quando o Brasil faz ponto, vem o movimento da sanfoninha na minha cabeça. Queria ter o equilíbrio da Rebeca.
As americanas fizeram mais um ponto; socorro, já sinto um embrulho no estômago. Estou ficando desanimada; talvez seja melhor assistir a outro esporte, como eu fiz naquele dia do surfe. “O que pode acontecer nesse set é a recuperação emocional das brasileiras.” Acabou o set e eu respiro fundo. Agora é tudo ou nada no tiebreak. Será que sábado vai ser assim também? Nessas horas de tanto nervoso, a melhor coisa que faço é inspirar bem forte e expirar bem devagar. Diminui até meus batimentos cardíacos. Eu sei porque, de tempos em tempos, faço um check-upzinho para ver se está tudo bem. Comer é uma tortura. Já não vejo nada; o tiebreak está empatado. Não vai dar, checo meus pedidos de exame e vou ter que assistir o fim do jogo no meio do caminho. Gente, meu coração não vai aguentar. Que lindo a galera torcendo lá. O que é isso? Já deu 15 pontos? Ah, não…