“Travestis negras podem ser empresárias e movimentar a economia com dignidade”, diz Raquel Virgínia
Nesta entrevista, Raquel avalia a atuação estratégica da Nhaí dentro do ecossistema brasileiro de startups e como as suas ações podem ajudar as empresas a avançarem na pauta de diversidade
Cantora, compositora, duas vezes indicada ao Grammy Latino, empreendedora, empresária, são muitos os predicados que permeiam o que é e pode ser Raquel Virgínia, uma potência que está ajudando o mundo corporativo a entender como a diversidade pode ajudar empresas a alavancar seus negócios. Cria do Jardim Miriam, periferia da Zona Sul da cidade de São Paulo, Raquel fundou em 2021 a Nhaí, uma agência que ajuda marcas a desenvolverem ações de diversidade de forma mais genuína e concreta. Com a sua agência também criou o evento Contaí Summit, que tem o objetivo de incentivar o encontro entre marcas e empreendedores LGBTs.
Na coluna de hoje, Raquel avalia a atuação estratégica da Nhaí dentro do ecossistema brasileiro de startups e como as suas ações podem ajudar as empresas a avançarem na pauta de diversidade, além de incentivarem mais empreendedores LGBTQIAPN+ a acreditarem em suas iniciativas.
Senhoras e senhores: Raquel Virgínia. Leiam com toda calma do mundo.
Houve um avanço da pauta do empreendedorismo LGBTQIAPN+ no país? Como a Nhaí está contribuindo com essa demanda?
Raquel Virgínia – Houve avanço porque as pessoas que empreendem e são LGBTQIAPN+ têm abordado muito mais o tema e, mesmo que tardiamente, outras estruturas começaram a incorporar o tema com mais atenção. Sobretudo, as grandes corporações entenderam que nós também desenvolvemos negócios e que também somos agentes potenciais da economia.
Quais são os planos para a agência e o projeto Contaí Summit?
Raquel Virgínia – Para o futuro, queremos continuar pavimentando encontros de pessoas que empreendem e são LGBTs, marcas e oportunidades. Nossa maior contribuição tem sido promover encontros e provocar ideias que façam com que esse ecossistema de negócios seja a favor das pessoas LGBTs.
Como fazer com que as marcas entendam que as pautas da comunidade não podem ser apenas sazonais?
Raquel Virgínia – As marcas não vão entender isso teoricamente. Então, é preciso que vivenciem novas movimentações. E é nesse sentido que novos modelos de negócios propostos por pessoas que empreendem e são LGBTs são tão fundamentais, pois são nossos novos negócios que vão suscitar esse alargamento de calendário.
Além de ser uma cantora talentosa, você é conhecida por ser uma ativista apaixonada. Quais são as causas que você mais se identifica e como você incorpora o ativismo em sua vida e carreira?
Raquel Virgínia – Obrigada pelo carinho. Temos grandes ativistas no Brasil, que são pessoas movidas por essas causas e que atuam de forma bem mais direta e intensa no ativismo. O meu caso é um pouco diferente: não me considero necessariamente uma ativista; prefiro me descrever como uma empresária que gera negócios dialogando com as pautas LGBTs e suas intersecções, sobretudo a pauta racial.
Qual legado você gostaria de deixar?
Raquel Virgínia – Quero deixar um legado bem modesto: travestis negras podem ser empresárias e movimentar a economia com dignidade. Só isso… se eu puder contribuir com isso de alguma forma, já estou feliz.