A saúde mental de nós, estudantes, não é uma questão nova. No entanto, apesar dos inúmeros apelos feitos por estudantes e organizações sociais, essa problemática continua sendo negligenciada de forma sistemática. Somente diante de tragédias, como a de Pedro, um estudante bolsista do Colégio Bandeirantes que tirou a própria vida após sofrer uma sequência de episódios de bullying, racismo e homofobia dentro da escola, o tema recebe uma atenção temporária, e ainda assim, de forma superficial.

O caso de Pedro expõe não apenas a ausência de uma política de saúde mental eficaz, mas também o descaso do Colégio Bandeirantes. Ao invés de assumir a responsabilidade de lidar com a questão dentro de sua própria comunidade, a escola simplesmente repassou o problema para a ONG Ismart, demonstrando sua completa omissão. Para agravar ainda mais, segundo matéria do UOL, o colégio agora considera até mesmo encerrar a parceria com a ONG. Enquanto essas instituições se envolvem em um “empurra-empurra” irresponsável, os estudantes, especialmente os bolsistas, continuam a sofrer o peso do racismo estrutural, do classismo e da falta de apoio.

Nós, estudantes que vivenciamos essas situações diariamente, não esquecemos. Sentimos no dia a dia escolar a necessidade urgente de maior atenção à saúde mental. Essa percepção não é apenas um sentimento isolado, é corroborada por dados. Uma pesquisa realizada pelo Datafolha em 2022, encomendada pelo Itaú Social, Fundação Lemann e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), ouviu 1.308 responsáveis e 1.869 alunos de instituições públicas em todo o Brasil. Os resultados são alarmantes: 34% dos pais relataram que seus filhos têm dificuldade em controlar as emoções; 24% dos jovens se sentem sobrecarregados e 18% estão tristes ou deprimidos.

Mesmo diante desses dados devastadores não se vê nenhuma ação significativa em prol da saúde mental dos estudantes. Em 2023, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) lançou o documento “Paz nas Escolas”, entregue ao então Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, e enviado a governadores e ministros. O documento destacou a urgência de uma rede de apoio psicológico e social nas escolas, uma necessidade que continua sendo ignorada.

A ausência dessa rede de suporte, somada à negligência do Estado em ouvir denúncias e responder às demandas urgentes que surgem nas escolas, tem perpetuado uma cultura de violência. Estudantes expostos a essas situações são forçados a enfrentar os mesmos desafios repetidamente, sem qualquer assistência ou respaldo. É por isso que reivindicamos o cumprimento da Lei 13.935/19, que garante o acompanhamento de profissionais de serviço social e psicologia nas instituições de ensino.

Mais de um ano após o lançamento do “Paz nas Escolas”, continuamos clamando pela mesma coisa: ação efetiva e comprometimento por parte dos governantes. Entretanto, o interesse em enfrentar essas questões sociais cruciais que afetam nossos estudantes parece inexistente. Ainda assim, eu acredito que é possível construir uma escola de paz, onde o verbo “esperançar”, tão propagado por Paulo Freire, possa ser verdadeiramente praticado. Uma escola que seja espaço de respeito, segurança, pluralidade e de construção de sonhos.

É dever do Estado oferecer suporte, acompanhamento e respostas às inúmeras demandas que surgem nas escolas. E isso só será alcançado com o fortalecimento de uma escola pública, gratuita e de qualidade, que realmente acolha, proteja e valorize seus estudantes. A omissão não pode mais ser tolerada.