Tradição, capitalismo e design: a transpiração do asè
Para o povo preto, o trabalho no candomblé pode oferecer uma fonte de resistência e fortalecimento diante desses desafios enfrentados no mercado de trabalho capitalista
Por Henrique André*
A relação entre o design, o trabalho no candomblé, o trabalho no sistema capitalista e o povo negro é complexa e multifacetada. Existem várias perspectivas e análises sobre esses temas que podem ser explorados, mas vou tentar fornecer algumas informações e referências para ajudar na compreensão deste tema.
O design é uma disciplina que está diretamente relacionada à produção de bens e serviços que atendem às necessidades e desejos das pessoas. No contexto do sistema capitalista, o design está intrinsecamente ligado à produção em massa e ao consumo de produtos. Isso significa que o design tem um papel fundamental na criação de produtos que são vendidos no mercado, gerando lucro para as empresas e acumulação de capital para os proprietários.
No entanto, essa relação entre design e capitalismo nem sempre é positiva, especialmente quando se trata do povo negro. O sistema capitalista foi construído sobre a exploração do trabalho, principalmente daqueles que foram escravizados e forçados a trabalhar sem remuneração durante séculos. Esse legado de escravidão e exploração ainda é sentido pelo povo negro em muitos países, incluindo o Brasil, onde o trabalho escravo ainda é uma realidade para muitos.
O candomblé, por sua vez, é uma religião de matriz africana que tem uma forte presença no Brasil e em outros países da diáspora africana. No candomblé, o trabalho é visto como um elemento fundamental da vida e da espiritualidade. As pessoas são encorajadas a trabalhar duro e a buscar a excelência em suas atividades, sejam elas profissionais ou religiosas.
Para o povo preto, o trabalho no candomblé pode oferecer uma fonte de resistência e fortalecimento diante desses desafios enfrentados no mercado de trabalho capitalista. Isso porque o candomblé valoriza o trabalho coletivo e a solidariedade, incentivando a construção de redes de apoio e a cooperação entre seus praticantes. Além disso, a espiritualidade do candomblé pode ser um importante recurso para a superação das dificuldades cotidianas, oferecendo conforto, acolhimento e motivação para seguir em frente.
A relação entre o trabalho no candomblé e o sistema capitalista pode ser vista como um conflito, uma vez que as crenças e valores do candomblé muitas vezes entram em conflito com as exigências e expectativas do mercado de trabalho. Por exemplo, a busca pela excelência no trabalho pode ser vista como uma virtude no candomblé, mas no sistema capitalista pode levar a uma cultura de trabalho excessivo e exploração.
Nesse contexto, o povo preto muitas vezes enfrenta desafios significativos em relação ao trabalho, tanto no sistema capitalista quanto no contexto religioso. O racismo estrutural, a discriminação no mercado de trabalho e a falta de oportunidades são apenas alguns dos obstáculos que muitos negros enfrentam ao buscar emprego e desenvolver suas carreiras. Também é importante que a comunidade do candomblé continue a valorizar e fortalecer a importância do trabalho como uma forma de contribuir para a comunidade e para a construção de um mundo melhor, enquanto busca encontrar formas de equilibrar as exigências do mercado com os valores e crenças do candomblé.
*Henrique André é designer gráfico, escritor e pesquisador afrofuturista que busca inspiração no cotidiano e na ancestralidade. Integra o Coletivo “O Futuro é Preto”, grupo voltado para ações de tecnologia, inovação, educação e cultura através de um olhar afrodiaspórico.