“Temos no poder um governo que não preza pela cultura”, critica o sambista Chico Alves
Aos 52 anos, o compositor Chico Alves tem mais de oitenta músicas compostas, ganhou neste ano o samba enredo da Vila Isabel. Na entrevista à NINJA, que foi realizada antes da crise sanitária, ele fala sobre sua trajetória profissional, as dificuldades de se viver da música e a falta de incentivo do governo para o samba.
Embora seja muito respeitado entre os sambistas e músicos, o compositor Chico Alves ainda não é um artista tão midiático. Capixaba radicado no Rio de Janeiro, ao contrário de muitos só começou a circular na cena carioca já mais velho e a partir dos anos 2000. A música por muito tempo foi sendo levada em paralelo ao seu trabalho como administrador, mas está cada vez mais se consolidando. O lançamento do seu terceiro CD, Paranauê, gravado pela Biscoito Fino, estava previsto para março, mas com a pandemia do coronavírus deve ser adiado. Mais uma vez realizou seu projeto por meio das plataformas de financiamento coletivo e apenas uma música autoral não será inédita neste álbum.
Aos 52 anos, tem mais de oitenta músicas compostas, ganhou neste ano o samba enredo da Vila Isabel e tem parcerias com grandes nomes do samba como Toninho Geraes, Moacyr Luz (Moa) e Wilson das Neves. Se apresenta em todas as casas de samba da cidade, e já viajou a diversos estados e países para cantar e tocar. Organizou projetos famosos de rodas de sambas gratuitas nas ruas cariocas, como o Samba do Peixe e o do Castelo, ambos no centro da cidade.
Na entrevista à NINJA, que foi realizada antes da crise sanitária, ele fala sobre sua trajetória profissional, as dificuldades de se viver da música e a falta de incentivo do governo para o samba. Explica também por que hoje o artista tem que entender de mídias sociais para divulgar seu trabalho, e os desafios de colocar as rodas gratuitas nas ruas da cidade. Para ele, o governo atual não preza pela cultura e sua intolerância tem sido refletida de forma desastrosa em nossa sociedade.
Como a música entrou na sua vida?
Desde muito novo a música era uma das coisas que mais me tocava, mas nunca a encarei profissionalmente. Sempre foi um bloqueio, pois via minhas referências, principalmente no samba, não ter uma carreira para viver dignamente da música. Apesar do amor ela sempre foi uma brincadeira, até que foi tomando corpo. Saí de Vitória para o Rio em 1998, onde já frequentava desde moleque com uma ligação muito forte, daí fiquei em Niterói até 2013 e desde então estou aqui. Comecei a compor e a frequentar as rodas do Candongueiro, que eram maravilhosas. Vinham muitos compositores e fui conhecendo a turma. Depois ingressei num grupo chamado Unha de gato, que fez relativo sucesso, viajamos para países algumas vezes, tocamos em todas as casas de samba e acompanhamos o Wilson Moreira na turnê do disco Entidades.
No Rio fizemos o samba no Mercado das Pulgas, daí passei a ter mais contato com a cena e as parcerias foram chegando: Toninho Nascimento, Toninho Geraes, Moa, Wilson das Neves, etc. Hoje além de umas 80 músicas gravadas por outros artistas, estou indo para o meu terceiro disco, dois solos e um que recebi a masterização hoje (15/02). Gosto muito de compor e que as pessoas gravem minhas músicas, tenho já uma obra legal gravada pelo Moa, Toninho Geraes, Leila Pinheiro, Quarteto em Cy, Guinga. Agora estou me dedicando mais, direcionando mais energia e tempo ao meu trabalho solo de músico e cantor da noite.
Mas você sempre tocou um trabalho em paralelo de administração?
Sou formado com MBA em marketing e trabalhei em muitas empresas, como a Barcas SA, Shoppings, e há 16 anos sou gerente comercial do Menezes Cortes. Sempre me dividindo entre o artista e o administrador, um paga a conta do outro: o artista paga a do equilíbrio emocional e o administrador paga da feira e apartamento, etc. Devagarzinho a gente vai fazendo sem pressa, o trabalho está ganhando uma consistência.
Nessa preocupação de fazer algo por fora para garantir o pé de meia, como você vê o mercado? Porque tem expoentes, mas muito sambista aí na rua tentando viver disso…
Pouquíssimos conseguem viver dignamente da música, sempre uma vida muito instável financeiramente porque a cena está horrível. Falo mais do samba que é onde mais convivo, o salário foi regredindo ao longo do tempo. É claro que numa cidade como o Rio brotam músicas a cada segundo, então essa disputa por um mercado pequeno faz com que o contratante explore isso. Quem ganhava X há cinco anos vem outro para ganhar X-2, entende? Faz com que gere essa disputa ruim para a própria cena. Cansei de tocar no Rio Scenarium, Carioca da Gema, nas grandes casas do Rio, e a receita de dez anos para cá caiu muito, é impressionante.
Outras coisas contribuem, como a crise de uma cidade que parece retomar um pouco o turismo e a Lapa muito discretamente voltando. Mas nos últimos quatro anos foi muito difícil para esse pessoal se reformular, ao passo que cresceram os movimentos de rua também. As casas pela conjuntura foram aumentando seus custos e reduzindo o salário da turma, ainda estão se readequando.
O Beco do Rato na Lapa parece estar numa crescente, de uns tempos pra cá tem evento quase todo dia e fizeram uma obra também para melhorar o atendimento.
Foi a grata surpresa dos últimos anos. Como músico posso dizer que é um pouco injusto, mas cada um tem sua realidade. Tem casa que fica com 40% do couvert artístico e paga 60% ao músico. O Beco do Rato foi na contramão disso, o couvert é quase integral ao músico e os preços do seu cardápio também foram mantidos para a situação real atual. Com isso ganharam com os bons músicos, que foram migrando e abrindo mão de outras casas porque não dá pra sair de casa e voltar com menos do que foi. E lá paga no dia, porque em muitos lugares você recebe uma semana depois e tem que voltar para receber. O dinheiro dele fica no meio do caminho, no final não fecha a conta. Tenho tido dificuldade para arregimentar músicos para outras casas, porque no final estou pagando para trabalhar, é complicado.
Você citou essa questão do samba de rua, nas Pulgas não era pago no início e você já fez também o Samba do Peixe e o Samba do Castelo no centro do Rio. Como vê isso?
Começamos nas Pulgas de graça, ficamos sete anos com o Sambalangandã, grupo que eu fazia parte e gravamos um belo disco inclusive. Começamos passando o chapéu, porque o que movimenta mesmo é produzir, né? Adoro fazer samba na rua, democratiza porque todos podem ir. Mas o melhor cenário que vi até hoje foi o Mercado das Pulgas no começo, porque lá é um espaço fechado e quem ia consumia na casa num preço barato e a gente recolhia uma graninha solidária no chapéu consciente. Todo mundo entendia o valor da música e não tinha o assédio e a disputa com o camelô. Veja bem, não reprovo o trabalho do camelô na rua que é justo, o problema é que, por exemplo, no Samba do Peixe quem viabilizava o som e os custos do músico era o Marquinho, do bar Toca do Baiacu, com apoio da livraria Folha Seca. Mas quando o evento começa a dar certo, o camelô se instala e outro bar abre mas não quer contribuir com o evento. E as pessoas poderiam se conscientizar um pouco mais, ninguém consegue fazer uma roda de samba de qualidade com bons músicos com equipamento de som bom sem pagar. Então, se não consumir no bar quem paga a conta? É uma questão de consciência, e os outros só queriam colher os frutos desse movimento num domingo onde não existia nada ali. Tinha aquela infinidade de pessoas, mas poucos querem participar desse rateio de custo. Isso que acho mais injusto, sou incentivador e amo essa coisa da democratização do samba de rua, mas precisa de um pouco de consciência de que todos fazem parte disso também.
Em relação à renovação do samba, está gostando da qualidade e tem nomes a citar?
Tem muita gente muito boa fazendo música de qualidade. Tem esse movimento das mulheres que é muito legal e tem que crescer cada vez mais. Dá um equilíbrio bacana, no samba sempre tivemos muito homem tocando. Hoje não tem muitas mulheres instrumentistas de harmonia, mas vai motivando cada vez mais outras o que é muito legal. Torço para que daqui a alguns anos não tenha necessidade de fazer o samba só das mulheres ou dos homens. Vai ser uma coisa tão natural que terá músicos equilibrados no mercado tocando juntos sem precisar dessa afirmação, que hoje é necessária. Eu mesmo me coloco nesse hall dos que contratam poucas, mas é porque não tenho muita relação com elas do ponto de vista musical. Tenho várias musicistas queridas, mas tenho meu grupo há muitos anos e isso vai mudando devagarinho. Faço votos para que isso aconteça o mais rápido possível, mas sei que ainda é um processo. Na cena como compositores tem muita gente bacana, outros forçando um pouco a barra, porque parece um pouco obrigatório o cara que canta compor. Não é verdade, assim como não é obrigatório o contrário, mas também tem os compositores que são bons cantores.
O Paulo César Pinheiro não é considerado um grande cantor, mas por outro lado é um fenômeno de composição.
Exatamente, o Aldir Blanc também, eles gravam mas não se colocam como cantores de ofício. Tem os híbridos, que são bons nos dois e é maravilhoso. Eu me coloco mais como compositor que cantor, não sou o rei da voz como o Chico Alves antecessor. Mas acho que tem muita gente bacana, não vou citar nomes porque posso ser injusto com muitos amigos. Tem uma turma com qualidade musical que está bem pra caramba compondo coisas legais, e outra que ainda está em fase de aprendizado. O compositor precisa trabalhar com autocrítica em relação às suas referências, as minhas são: Chico Buarque, Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro, Luiz Carlos da Vila, Moa, Toninho Geraes, etc. Então me cobro muito e sempre que faço uma música pergunto se minhas referências fariam algo parecido. Mas alguns têm ansiedade em ser compositor, daí a pessoa de repente faria um disco melhor se explorasse mais o canto. Ou o contrário, às vezes é bom melodista e não é bom letrista e força a barra. Tenho pouquíssimas músicas sozinho, faço melodia mas não gosto das minhas letras e vice versa. Dou para quem sabe mais e acho que ganho com isso. Quando recebo uma melodia do Toninho Geraes ou do Moa, ou uma letra do Toninho Nascimento ou mando uma melodia para ele, isso leva meu trabalho para outro nível. São compositores com obras muito timbradas no cancioneiro e é isso que eu estou buscando. Então devagarzinho vou colando meu nome, não tenho pressa de nada.
Você está lançando um CD, é um cara muito ativo nas mídias sociais por conta própria, como vê essa transição do mercado com as ferramentas tecnológicas atuais?
Está muito complicado e confuso, e tem também vários perfis porque eu, por exemplo, sou compositor. Tenho muita coisa, quero registrar, é o meu barato maior, acho que quando a pessoa, independente do sexo, quer fazer um disco de 13 músicas ela com certeza vai ter uma que vai tocar e as outras não se tiver um trabalho contundente de divulgação. É muito difícil, porque você não tem mais hoje o rádio ao seu favor. Não entrando no mérito de qualidade, mas é desproporcional você ter um estilo de música que toca 50 mil vezes a mais que outro. O samba virou um animal de zoológico, que fica preso em grade aberto à visitação no final de semana. Tem rádio que toca MPB mas o samba foi retirado, o ritmo mais brasileiro que existe. Então hoje o artista tem que se desdobrar e ser muito ativo nas redes sociais: quem tem condição de pagar uma assessoria é melhor, mas não é todo mundo que tem.
Essa é uma tendência do mercado meio desproporcional…
Mas não dá cara, você tem que pagar pelo menos R$ 3 mil e mal tem dinheiro de cachê bicho, como que faz? Então uma parcela tem essa possibilidade e a outra tem que aprender. Quando ia tocar na casa tinha certeza que tinha público, hoje quando a casa contrata ela tem certeza que a gente vai levar o público. Quando muda o cenário, não adianta o artista achar que é só artista mais. Ele é divulgador, produtor, tudo, porque não tem dinheiro no mercado. Então tem que aprender, fazer um cursinho de mídia social. No meu caso com uma formação em marketing facilitou essa interatividade com o meu público. É muito incipiente mas me ajuda muito, fiz dois financiamentos coletivos nos meus CDs com sucesso. O público depois das redes se coloca como seu amigo, e nada melhor que você retribuir estando perto. Já vi artistas com trabalhos muito mais consolidados lançar projetos de financiamento coletivo e não conseguir, porque estão distante do público. Esse aprendizado é algo que o artista vai ter que buscar, porque é a relação direta. Você levar a música até o seu público do produtor ao consumidor, remontamos à jornada do rádio com o samba no boca a boca. O Facebook, que era um grande aliado do artista para divulgar sua obra, migrou para o Instagram. O face virou um espaço de discórdia política, se você ralhar um político são várias interações, mas se postar uma música não tem o mesmo apelo mais. O insta ainda está mantendo isso, mas os espaços estão se restringindo. Então, quanto mais ativo o músico estiver na cena cantando e apostando no que faz a música vai ganhando mais espaço e sendo reproduzida por outros artistas. Hoje tem uma dificuldade muito grande para o compositor fazer com que o outro cante a sua música, quando a Dona Ivone Lara fazia uma no outro dia já estava todo mundo tocando. Todo mundo virou compositor, fica uma disputa quase ferrenha. Às vezes fica muita coisa boa sem reverberar, faz parte…
Você participou pela primeira vez e ganhou o samba enredo da Vila Isabel. Como vê o carnaval carioca?
Gosto de samba e percebo que ele ficou muito apartado das escolas. Da década de 90 até três anos atrás, se você pesquisar os compositores de samba enredo vai ver qual a relação deles com samba. São pouquíssimos, quando na verdade os sambas enredos eram feitos por sambistas, como Paulinho da Viola, Mano Décio, Roberto Ribeiro, Monarco, etc. Com o passar do tempo foram se criando escritórios do samba, muito dinheiro, investidores, e o sambista foi saindo até porque o samba mudou. Começou a acelerar muito, ficou muito pasteurizado, formatado. Em 2018 veio o Moa com um samba maravilhoso na Tuiuti, que você consegue cantar numa roda, o da Manu da Cuíca e do Máximo na Mangueira no ano passado e nesse ano num ritmo menos acelerado. No samba da Vila tentamos buscar essa pegada mais melódica fora daquele formato que parece uma colcha de retalhos. O próprio público não sabe cantar mais como antigamente, o samba vai se afastando da escola. A única que mantém evento de samba é a Portela por causa da velha guarda, a maioria toca pagode. Não que tenha algo contra, mas musicalmente muitos são ruins. Antigamente o compositor era reverenciado, o samba era a vedete da escola, agora são as bonitonas rainhas de bateria. Nelson Sargento vai lá na Mangueira e muita gente não sabe quem é o velhinho, que é fundador da escola. No Império Serrano ninguém sabe quem é o Zé Luiz, Wilson das Neves, interromperam um dia o próprio Aloísio Machado num evento. Não pode ser isso. Embora não faça parte da ala de compositores de nenhuma escola, eu e muitos amigos gostaríamos. Muitos artistas de uns anos para cá saíram das escolas, seria legal ter o Toninho Geraes da Portela, Chico Alves da Vila, João Martins de não sei de onde, etc. Demandaria sambas muito melhores, teria uma relação direta que poderia engrandecer muito mais a qualidade dos sambas enredos. Essa safra deste ano tem uns muito bons de melodia, letra, já buscando outra levada que não é a de quatro anos atrás de quase frevo.
Em relação à política nacional, você fez uma música recentemente chamada Sonho Estranho com o Moa que tem várias críticas. Como você tem visto o cenário atual?
O Sonho Estranho foi uma grata surpresa do meu encontro com o Moa, porque a gente já é muito amigo, somos vizinhos, e nas nossas conversas veio essa coisa de que tá foda e tudo mais. Não vou entrar no mérito do embate político partidário porque não leva a nada, mas é uma mudança muito grande de relacionamento com essa questão da intolerância que reflete na sociedade quando você tem no poder pessoas que são intolerantes. Um governante precisa ter responsabilidade com a fala, porque empodera os que já têm um desvio para a intolerância e coisas beligerantes. Se fala que índio não é gente, o que está ali do lado querendo tomar o território do índio vai se empoderar. Flexibiliza as leis, não dá atenção, e você vê a questão das milícias e o crescimento exorbitante da violência. Como o cara fala em liberar arma num país desse, cara? Então tem tudo isso na sociedade, essa intolerância religiosa, e quando o Moa me mandou essa melodia achei muito alinhada ao que queríamos falar. Temos cantado e as pessoas têm se sensibilizado muito, e fica aquela sensação de missão cumprida ao acertar com uma mensagem bonita, triste, mas real e sem ofensa.
Esse tensionamento das relações não está fazendo bem para ninguém, divergir politicamente pode ser saudável mas virou uma praça de guerra. Tenho alguns amigos que não são de esquerda, mas não são fascistas e parece que botam todo mundo num campo só. O cara de direita é fascista e homofóbico, assim como na esquerda só tem ladrão, bandido, petralha, e isso virou um desastre no país. Uma polarização que não eleva em nada a política nacional. A gente vai santificar a esquerda? Não pô, sou de esquerda e sei que ela comete erros como qualquer campo político. As alianças às vezes são nocivas, mas quase inevitáveis nesse sistema político. As pessoas precisam se abrir mais ao diálogo sem apontar o dedo, porque isso afasta. É preciso entender o processo, não achar quem tem mais ou menos razão, ver os dois lados. Está muito complicado, o diálogo está muito difícil.
Qual sua análise no campo da cultura com o cinema ganhando prêmios, sambistas fazendo músicas de protesto, atores e atrizes da televisão se manifestando, etc?
Temos no poder um governo que não preza pela cultura, está usando a política como revanche e a coloca como coisa de comunista. Qualquer crítica acha que é ofensa pessoal, nós mesmos artistas que estamos expostos temos que saber ouvir críticas. Essa coisa revanchista de caçar apoios culturais de tudo que eles acham ser uma cultura de esquerda, comunista, marginalizando as pessoas, artistas e partidos é um desastre. E também nessa hora aflora mais a voz de quem faz arte, é nessa hora que a gente tem que ser mais combativo mesmo que sofra retaliação. Eu mesmo sofro direto.
Você diz em termos de contratação?
Sem dúvida, na contratação de shows e coisas governamentais. Conheço as pessoas e sei que são revanchistas, foram amigos de trabalho e por questões pessoais se afastaram. Tem muita perseguição, as escolas de samba são grandes exemplos disso, gente dizendo que vai tirar dinheiro do carnaval para botar na cultura e educação. Isso é balela! Escola de Samba é cultura e geração de renda, e botam na cabeça das pessoas que não tem nada disso. Um orçamento público não se faz tirando daqui e botando ali, mas jogar para a galera é a arma porque eles falam para pessoas que não vão atrás da informação. Isso é muito triste, tem uma turma das religiões pentecostais, embora não tenha nada contra nenhuma religião, que raciocina a partir do que o outro fala. Aceitam e reproduzem a mentira que o carnaval é só putaria, balbúrdia e aquelas coisas. Esquecem que gera emprego nos barracões o ano inteiro, que a rede hoteleira fica lotada nesse período, comércio, restaurante, todo mundo gerando receita para a prefeitura e os ambulantes desempregados vendendo na rua. Isso é um desastre, você pega um Teatro Rival que perdeu o apoio da Petrobrás porque teatro e música são coisas de comunista. Tem problema? Tem, então vamos mexer nas falhas, mas extinguir e direcionar só aos artistas que gostam deles não é legal nem para um lado nem para o outro. O bom é o equilíbrio. Não tenho nada contra o sertanejo universitário, cada um faz o seu trabalho, mas é justo você ter uma televisão, todos os veículos, tocando isso toda hora? E para a música brasileira, não só o samba, não sobrar espaço nenhum? Alguma coisa está errada nisso aí… Pode ser alguma falha nossa, mas mesmo assim é desproporcional demais preenchendo espaço com uma música descartável. A gente não faz música para acabar daqui a seis meses e vir outra, essa é a grande diferença da cultura para a música de consumo. Podia ter políticas públicas melhores para isso, a cultura é algo que passa de geração para geração.