Chris Zelglia, da Cobertura Colaborativa NINJA na COP30

O capitalismo sempre encontrou formas de se adaptar às crises que cria. Atualmente, o conceito de tecnologia verde sugere que a inovação é suficiente para resgatar o planeta. Essa visão é atraente: sem alterar comportamentos, sistemas ou relações de poder, seria suficiente trocar equipamentos antigos por opções limpas.

Entretanto, essa promessa vem com um preço ambiental, político e psicológico.

A tecnologia verde não aborda a base que causa a destruição; simplesmente a apresenta de uma forma mais atraente. O sentimento geral é que a crise pode ser resolvida sem renunciar ao modelo de crescimento ilimitado que nos trouxe até este ponto.

Sob uma perspectiva psicanalítica, isso representa uma defesa: uma tentativa de evitar o enfrentamento com a perda, com os limites e com o fim. A tecnologia é vista como uma mãe que repara, restaurando o equilíbrio sem exigir luto ou responsabilidades.

Assim, continuamos a almejar dispositivos verdes como se fossem perdões morais, ignorando o impacto humano e territorial de sua fabricação.

A tecnologia verde, por si só, é uma ilusão: um consolo simbólico que preserva as lógicas que causam destruição.

Veículos elétricos, créditos de carbono, turbinas limpas: tudo isso depende de mineração intensiva, realocação de comunidades tradicionais e cadeias produtivas que permanecem exploratórias. A superfície verde oculta o marrom do solo nas áreas sacrificadas.

A tecnologia ecológica se transformou em um produto afetivo. A compra de um item sustentável age como um ritual de purificação, oferecendo uma forma de aliviar a ansiedade climática sem alterar práticas coletivas. O alívio psicológico se torna parte do comércio.

Além disso, ao atribuir à inovação um papel de salvadora, esquecemos que as soluções mais eficazes existem há séculos: práticas tradicionais, proteção de territórios, diminuição do consumo e políticas públicas eficazes. O problema não é a falta de tecnologia; é a desigualdade excessiva.

Precisamos deslocar o debate da tecnologia para a ética. Não se trata de negar a inovação, mas de impedir que ela sirva como fantasia que evita conflitos reais: redistribuição de riqueza, descarbonização radical, limites ao lucro e reconhecimento dos saberes que realmente protegem o planeta.

Uma tecnologia só é verde quando não sacrifica vidas. E isso exige coragem política, não apenas design futurista.

* As opiniões expressas neste artigo são de inteira responsabilidade do autor, produzidas durante a cobertura colaborativa da COP30.