Surf para todos: a comunidade vence pelo esporte através das ONGs
Projeto Aspas é exemplo de democratização do esporte e transformação de realidades por meio do surf
Por Márcia Reinaldo para cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube
Originário da polinésia ocidental, praticado inicialmente com tábuas de madeira, datado de mais ou menos três mil anos atrás, o surf caiu no gosto do mundo e dos brasileiros. Desde 1964 o mundo dispõe de campeonatos internacionais, o Brasil participa desde 1965.
Mesmo com toda projeção da modalidade, o surf se tornou um esporte olímpico somente no ano de 2016, com o reconhecimento do Comitê Olímpico Internacional (COI). Os jogos foram prorrogados de 2020 para 2021 por causa da pandemia.
O Brasil tem tradição no esporte e muitos jovens aspiram uma oportunidade para ganhar notoriedade surfando, porém a condição de muitos brasileirinhos que residem nas periferias não são favoráveis financeiramente.
É aí onde entram as Organizações Não Governamentais (ONGs), válvula de escape para muitos que desejam galgar uma carreira no esporte ou até mesmo sair da ociosidade, ganhando expectativa de uma vida melhor.
No bairro Pirambu, periferia de Fortaleza, existem alguns projetos transformadores, um deles é o “Aspas”. Um projeto que surgiu através de doze surfistas que tinham o desejo de usar o esporte como ferramenta de inclusão social, pensando no bem estar da criança e do adolescente.
O projeto conta com sede própria, biblioteca, espaço de leitura ao ar livre, e outros esportes como o karatê e judô. Sendo que os alunos precisam estar matriculados em uma escola regular, tendo acompanhamento constante dos organizadores.
A organização também conta com todos os aparatos para o uso dos alunos, como a prancha, strep, coletes, parafinas e outros acessórios que agregam nos outros esportes, por exemplo o kimono do judô.
Segundo o coordenador do projeto, Jean Carlos, o “Aspas” não trabalha só a questão dos esportes, foca também a questão social e a evasão escolar.
“A gente trabalha focado na questão da educação, não dá para trabalhar só o esporte e sim a importância de educar bem os nossos alunos. É tanto que a gente criou o ‘na onda do conhecimento’ que é: agregar o surf com o reforço escolar, fazendo com que a criança tenha mais interesse na parte dos estudos”.
Sobre a inserção das meninas na modalidade, Jean Carlos vê com otimismo o crescimento, pois antes a procura era bem menor, pelo preconceito da própria comunidade.
Jean ressalta que surf é para mulher sim, e cita o exemplo de Tita Tavares, cearense tetracampeã brasileira de surf. No projeto Aspas, hoje de doze crianças assistidas pelo projeto, quatro são meninas. Um crescimento tímido, porém significativo.
O coordenador também informa que o “Aspas” já produziu talentos, como o Carlos Henrique, aluno que participou de campeonatos pela Federação Cearense de Surf, e olimpíadas da juventude de Fortaleza. Jean Carlos ainda almeja que as crianças e adolescentes assistidos pela organização cheguem mais longe, como por exemplo um campeonato brasileiro, um Mundial e até mesmo uma olimpíadas.
A ONG também se responsabiliza pela inscrição, alojamento e logística para os alunos inscritos em campeonatos. O impacto social é o que mais orgulha a equipe de colaboradores, porque sabem da importância do terceiro setor para a comunidade, já que o poder público acaba não alcançando todos os problemas sociais.
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Por Márcia Reinaldo para cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube
O acolhimento vai dos oito anos de idade até a maioridade, após os dezoito anos o projeto continua prestando assistência através da Rede Cuca com capacitação profissionalizante, dando assim mais uma oportunidade de poderem traçar o seu próprio percurso na vida pessoal e profissional.
O “Aspas” recebe doações tanto de pessoa física quanto jurídica, porém as doações são pequenas diante de todos os desafios. Mas isso não desanima os idealizadores que continuam trabalhando com afinco para que o projeto cresça.
Tirar pessoas de situação de vulnerabilidade é um ato de amor ao próximo, de resistência a um sistema que engole os menos favorecidos, e marginaliza quem pouco tem. Contar com essas organizações pode ser a brisa que alivia o calor em uma tarde quente.