Saúde mental ainda é um desafio, afirmam especialistas
Atualmente, cerca de 300 milhões de pessoas no mundo têm depressão, segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas)
Atualmente, cerca de 300 milhões de pessoas no mundo têm depressão, segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas)
Mesmo com todos os avanços da medicina, alguns assuntos ainda são desafiadores. Acho que o exemplo mais palpável é a saúde mental – ainda um tabu. Tema normalmente associado à fragilidade do indivíduo, é visto por muitos como incapacidade da pessoa afetada em lidar com os problemas ou ausência de força de vontade em melhorar. Para uma conversa mais aprofundada sobre o tema, na coluna de hoje, trouxe o Dr. Fleury Johnson e a Dra. Luísa Avelar, para um papo sobre depressão e ansiedade.
O problema é mais grave do que parece, o Brasil, por exemplo, tem a maior prevalência de ansiedade do mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Aproximadamente 9,3% dos brasileiros sofrem de ansiedade patológica. Em seguida, aparecem Paraguai (7,6%), Noruega (7,4%), Nova Zelândia (7,3%) e Austrália (7%).
Mas a ansiedade, não é o único obstáculo a ser enfrentado quando discutimos saúde mental. A depressão também afeta um contingente enorme de pessoas, aproximadamente 300 milhões no mundo, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Para compreender esse cenário, temos que entender o que é depressão e ansiedade.
Não é tarefa fácil identificar ou “sentir” quando estamos enfrentando um problema de saúde mental, mas pistas estão sempre presentes. Segundo a Dra. Luísa Avelar, “pessoas com depressão, não se sentem bem. Elas percebem que algo está errado, que algo está diferente com o humor delas. Não são mais como eram”, pontua.
Os desafios estão presentes também em enxergar a tristeza patológica como doença, seja por parte do paciente ou de seus familiares e amigos. Dr. Fleury Johnson explica que “quando temos uma perna quebrada, as pessoas conseguem ter dimensão disso. Agora, quando falamos de saúde mental, elas não conseguem realmente entender o que a outra pessoa está passando”, afirma.
Avelar salienta ainda que, apesar de haver divergências entre as queixas que levam homens e mulheres a procurar ajuda médica, “todas as pessoas com depressão experimentam, em maior ou menor grau, sintomas como: alterações do sono – insônia ou sonolência –, alteração do apetite e cansaço. A diminuição da libido também pode estar presente. Além disso, os pacientes dizem estar mais reativos e impacientes. Sair de casa, mesmo que para uma atividade prazerosa, se torna difícil. Choro fácil, sensação de não ser compreendido, culpa excessiva e sentimento de solidão são queixas comuns. O autocuidado pode estar diminuído e pensamentos constantes de morte podem estar presentes”.
No tocante à ansiedade, Johnson afirma que “transtorno de ansiedade é um estado de alerta constante, onde há uma preocupação excessiva, e muitas vezes, maior que o real tamanho do problema. Ela pode se manifestar por insônia, medo, taquicardia, dor no peito, cansaço e dificuldade de respirar”.
E como explicar a maior prevalência de problemas de saúde mental na população negra? Para Johnson, “a dificuldade de conseguir emprego, os julgamentos baseados em racismo e preconceito, a falta de oportunidades para a população negra, além do fato de ser a população em maior número em pobreza e extrema pobreza no Brasil, contribuem para o adoecimento”. Johnson ainda lembra que, “o risco de suicídio na faixa etária de 10 a 29 na população negra é 45%. Entre os homens negros, nessa faixa etária, temos um aumento de 50% em comparação aos homens brancos, segundo dados do Ministério da Saúde”.
Como podemos ver, saúde mental é um tema complexo, permeado de preconceitos e estigmas. Desafiador, não somente pelo fato de ser necessário fazer com que as pessoas entendam que depressão e ansiedade são doenças, que precisam de auxílio médico e psicológico. Mas também pela dificuldade de acesso à saúde, custo elevado do tratamento e as limitações deste no SUS.
Luisa Avelar é formada em medicina pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP). Pesquisadora no Departamento de Transplante de Medula Óssea no University Hospitals, Cleveland – OH/ EUA (2019). Membro do Comitê de Estudantes de Medicina do American College of Physicians – Brazilian Chapter (2019)
Fleury Johnson é formado em medicina pela UFRJ. Também é especista em Clínica Médica e Mestre em medicina pela Universidade de Lisboa. Especilizando em Management and Leadership na Havard Business School, e Fundador do Instituto DIS ( Instituto de Diversidade e inclusão em Saúde)