São Paulo é a Sodoma de nossos tempos, o gado da Bovespa o bezerro de ouro
Com licença poética ao relato histórico da bíblia e, sem caô teológico, poderia dizer que aquela aberração do gado da Bovespa, que vemos no centro da cidade, é o bezerro de ouro construído na Sodoma de nosso tempo.
Com licença poética ao relato histórico da bíblia e, sem caô teológico, poderia dizer que aquela aberração do gado da Bovespa, que vemos no centro da cidade, é o bezerro de ouro construído na Sodoma de nosso tempo.
Já que vivemos num pais cristofascista que se utiliza do poder político, religioso e econômico para acabar com qualquer tipo de esperança do povo e criar um imaginário popular de que algo de bom sairá desse casamento de poderes, peço licença para – em uma contranarrativa – usar o conhecimento e esperança da minha fé para dizer que muitos religiosos, descomprometidos com uma leitura justa da bíblia, fazem vista grossa sobre os fatos históricos desses relatos. O fato é que, se a bíblia é um livro histórico com relatos sobre um povo à luz de uma fé, ela é clara em seu fio condutor: libertação do povo, justiça social e amor à comunidade como único mandamento. Não há curva nessa história e por isso escrevo esse texto – nosso imaginário de justiça social também tem a ver com a fé do nosso povo!
Dito isso, quero dizer que, primeiramente, o gado da Bovespa me parece uma história muito familiar. Eu fui criada em escola bíblica para crianças numa igreja evangélica, ouvi diversas vezes a história relatada em Êxodo que conta sobre o povo liberto da escravidão e que em fuga, liderada por Moisés, atravessa o deserto do Sinai até a terra prometida. Em dado momento, o povo que estava perdido no deserto endeusa um cordeiro de ouro, feito por um homem chamado Aarão, acreditando que aquilo os salvariam da fome, da morte e das incertezas da crise. A bíblia é clara quando conta que Aarão construiu o bezerro para que aquele povo, em sofrimento e sentindo-se abandonado, acreditasse que um deus de ouro o guiaria para o fim da crise.
Se a bíblia é o que enfatizei nos primeiros parágrafos desse texto, acredito que os relatos sobre o bezerro de ouro são enfáticos em evidenciar que não era a adoração a um deus de ouro que os fariam chegar na terra prometida. Infelizmente no tempo bíblico, e ainda hoje, poderosos nos fazem acreditar que o caminho é esse mesmo – os dos bezerros de ouro! Isso porque nos querem afundados no deserto – esse é o projeto do grande pecado estrutural que é o capitalismo.
E estamos no deserto! São Paulo é a cidade que possui mais de 30 mil pessoas dormindo nas calçadas; é a cidade em que a polícia assumidamente aborda moradores dos jardins de forma diferente do que moradores da cidade tiradentes; é o centro financeiro da maior falência da nossa história – mais de 19 milhões de pessoas estão passando fome em 2021. São Paulo é Sodoma e aqui entra a segunda história bíblica que quero trazer diante dessa tragédia que estamos vivendo.
Sodoma era uma cidade gananciosa, que recebia mal os estrangeiros e expunha seu povo ao sofrimento enquanto alguns se esbaldavam em conforto e abundância. Se Deus claramente destruiu Sodoma por conta do comportamento escandaloso de seus habitantes, esse comportamento certamente não era o da sexualidade, como muitos religiosos vão afirmar. Em Ezequiel 16:49 sabemos claramente qual era o pecado de Sodoma: “Ora, este foi o pecado de sua irmã Sodoma: Ela e suas filhas eram arrogantes, tinham fartura de comida e viviam despreocupadas; não ajudavam os pobres e os necessitados”.
São Paulo é a Sodoma de nossos tempos, o gado da bovespa o bezerro de ouro!
Em todas essas, a justiça dos que lutam e vivem para o povo recaiu sobre os que, perdidos na ganância e cegos para as dores do seu povo, criaram palácios, bezerros e gados de ouro.
Eu sigo na luta porque tenho esperança em pessoas comprometidas com a verdade e a vida e, na frente daquele símbolo da morte, têm denunciado que nosso povo tem fome, nosso povo tá morrendo, que não é desses nojentos poderosos que surgirá a salvação e que essa ideia de cidade deve ser destruída.