por Pati Lima Felix

Nas saias que giram ao som dos tambores de curimbó, escrevemos o que o Brasil tenta calar. Rios e espécies de árvores constituem um lembrete de que quase nenhum deles é reconhecido como sujeito. A maioria carece, perece, fica à mercê.

E já que gostam tanto de ver nossos corpos dançando, que vejam então as mensagens dos rios dançando junto — grafitadas na pele com jenipapo ou riscadas nos tecidos que rodopiam, rodopiam, rodopiam, até que alguém perceba que são corpos inteiros dizendo: basta! Porque, além de ser adorno, a saia é ato político! Como Rayri Ximanga as denominou: ‘Saias Manifesto’. 

Em sua saia, a estilista amazônida Rayri Ximanga escreveu: “Rio Tapajós, vivo!; Privatização é destruição; O Rio é do povo; O Agro Mata!; Não à Ferrogrão;  Fora Agro!; Respeite a Amazônia.”

A estilista explica que “a saia manifesto foi uma estratégia de luta através da dança, especificamente o carimbó, dança regional amazônica. Para nós (dançarinas de carimbó) sereias, nossas saias são caldas, extensão de quem somos, e com ela atraímos muitos olhares. Com essa observação, surgiu a ideia de trazer essa intervenção, chamando atenção para as lutas que meu território enfrenta.”

Em minha saia, verde Floresta, feita pelas mãos de Adailson Munduruku, escrevi: “Reconheçam os Direitos dos Sujeitos/Nature as a Legal Personhood: Rio Tapajós, Rio Guamá, Rio Madeira, Rio Tocantins, Foz do Amazonas, Rio Xingu, Rio Guaíba, Samaúma, Castanheira…” e tantos outros seres. É o jeito que encontramos de fazer a floresta falar quando tentam calar tudo ao redor.

E talvez essa seja a maior força da arte: não precisa entrar no Setor Azul da COP30, pois a arte tem a capacidade de entrar inclusive onde o protocolo é dispensado. Afinal — como cantam os mestres: “carimbó é dança livre”, se dança nas ruas, com os pés descalços. E ao mesmo tempo que descreve nas saias e nas músicas essas questões tão relevantes, dispensa terno, gravata e papel timbrado. Transformam tecido em documento!

E, enquanto houver quem faça a Floresta girar nas saias, ninguém conseguirá decretar o silêncio da Amazônia.