Retrocessos globais sob égide do capital e resistência trans: o que está em jogo neste dia do orgulho
Estratégia internacional que une natalidade forçada e perseguição às pessoas trans serve apenas aos interesses do capital
Neste Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, quero chamar a atenção para a relação entre o avanço da extrema direita global e os ataques aos direitos reprodutivos das mulheres e à autodeterminação das pessoas trans. As pautas conservadoras não são apenas uma expressão ideológica do conservadorismo — elas têm uma base material e atendem a um projeto econômico que busca garantir a reprodução da força de trabalho e o aumento da exploração.
Não se trata apenas de estigmatizar a população trans ou criminalizar o aborto por dogmatismo. Como parlamentar e mulher trans, vejo que a perseguição às conquistas da população LGBTQIAPN+ está profundamente ligada a um plano econômico que precisa controlar os corpos para controlar o capital. Basta observar o que tem acontecido nos Estados Unidos, com políticas que reduzem os custos da fertilização in vitro (FIV) e que acabam com o direito à cidadania para filhos de imigrantes irregulares nascidos no país. Outras propostas da gestão Trump incluem bolsas de estudos para casais com filhos e bonificações de até US$ 5.000 a cada mãe americana após o parto para aumentar a natalidade, como parte da estratégia de recomposição da força de trabalho em solo americano.
Os Estados Unidos e setores do capital norte-americano têm percebido que o Estado está falindo, e essa falência do Estado tem significado uma perda também de poder para estes setores do capital. Além disso, há uma dificuldade de manejo do capital orgânico baseado no seu nascedouro, o que seria ponto de partida para a estratégia de expansão. Com essa lógica invertida temos o empobrecimento do Estado, o empobrecimento da população trabalhadora e especialmente uma fragilização da lógica de reconversão – especialmente se a gente pensar que o dólar acaba sendo lastreado em pouco trabalho.
Esse tipo de agenda — que inclui a proibição do aborto e a restrição ao acesso a terapias para a população trans — serve para forçar o aumento da taxa de natalidade e garantir mão de obra mais barata e abundante, num momento em que o capital enfrenta queda da taxa de lucro e precisa reduzir custos. Ao mesmo tempo, desmontam políticas públicas, cortam direitos e sufocam a educação crítica para que esse processo aconteça sem resistência.
Mas esse plano autoritário ignora a força da nossa luta. Eles apostam na passividade da sociedade, mas movimentos LGBTQIAPN+, feministas e antirracistas têm mostrado que a resistência existe e vai se fortalecer. Por isso, neste Dia do Orgulho, reafirmo o meu compromisso: seguir em marcha contra o retrocesso, contra a exploração e contra o autoritarismo. Porque nossa resistência, e principalmente nossa existência são a própria esperança por um futuro livre e mais justo para toda a sociedade.
Dani Balbi é professora, escritora, roteirista e deputada estadual pelo PCdoB/RJ