Raull Santigo: Minha história com Luiz Inácio Lula da Silva
A história mostrará os fatos. Sei que meus filhos saberão por minha boca dessa história onde honra, de cabeça erguida, seguimos para enfrentar até o último momento.
Há alguns anos atrás, Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência deste país. O ano era 2003, eu tinha 14 anos e o Complexo do Alemão já estava entre os lugares conhecidos como dentre os mais perigosos do planeta.
As moradias eram ruins, as valas corriam abertas por grande parte do morro e a cada forte chuva, as enchentes devastavam muitos lares da parte baixa que enchiam, mas também os barracos da parte alta, sem estrutura, onde muitas das casas ainda eram inteira, ou parte, de madeira.
Pouco tempo depois, 2005 ou 2006, as coisas já estavam diferentes. A comida da escola havia melhorado, aliais, as vagas surgiam, ao mesmo tempo, obras que pensavam em espaços para cuidar da criançada eram criados, programas que tirariam pessoas aos milhares do mapa da fome surgiam, causando impacto nacional e chamando atenção no mundo.
Os empregos surgiram aos montes também, vi minha casa mudar, melhorar e evoluir. No auge de ver muitos dos meus manos se envolvendo, ainda, com o varejo das drogas para levantar uma grana aqui na favela, também vi surgir inovações incríveis, como as #LanHouses para acessarmos internet, pois agora e sim, isso foi muito importante, vi nossa galera da favela ter poder de compra. Vi aumentar o número de moradores podendo comprar motos, por exemplo e transformar-las em uma das mais potentes ferramentas de mobilização urbana existente e que gera renda direta para o morador, através do trabalho de moto-táxi.
Vi a galera ocupar as universidades, os espaços públicos e qualquer pedacinho daquele que antes, a elite dizia e ainda insiste em dizer e fazer com que não sejam acessado por nós.
Me envolvi fácil e encantado com a internet, começamos a um a um, dentro da favela, a poder comprar um celular, um computador, experimentar internet com qualidade. Tive acesso a educação alternativa através dos projetos sociais aqui da favela, mas também formal na escola e através da internet. Em certo momento conheci um pouco mais sobre direitos, comunicação e tudo isso junto se mostra através do trabalho que faço hoje, em que muitos de vocês, por segundo, me procuram pedindo dicas, emprego, uma palavra amiga, uma reflexão, uma oficina, uma palestra, uma aula magna, um milhão de coisas!
E isso só no RJ cheio de holofotes, ou na famosa Sampa. Imagina nos outros estados do país, antes ignorados, que passaram a ter refeição digna, água, respeito, mulheres fortes, guerreiras, tendo condição de manter sua casa, suas crianças, com um pouco mais de suporte direto.
Não digo que TUDO foi por conta do LULA, mas sem ele, NADA seria o mais certo de ter acontecido.
Não podemos pedir que as pessoas se lembrem, num país onde quem forma opinião em nível nacional é uma imprensa hegemônica completamente exploradora, interesseira e que cresce quando o sangue de quem mora na favela escorre. Estas pessoas não vão lembrar, elas não tinham fome e ficaram revoltadas ao ver que o mano e a mina da favela estavam estudando na mesma classe que os filhos e filhas deles.
Mas posso dizer que eu NÃO ESQUEÇO e NÃO ESQUECEREI do que mudou, dentro da minha casa, dentro do meu caminhar, dentro da minha cabeça e na minha atitude de hoje me assumir, ter orgulho e lutar pela FAVELA.
Com cabeçar erguida e punhos fechados, observo o povo gritar contra si próprio neste momento, apludindo o opressor e caminha cantando para um futuro de “campo de concentração”. Mas isso não é perder, só mostra que ainda há muito a ser feito contra a covardia histórica deste país.
A história mostrará os fatos. Sei que meus filhos saberão por minha boca dessa história onde honra, onde de cabeça erguida, seguimos para enfrentar até o último momento, aqueles e aquelas que crescem diminuindo ou pisando nos outros.
Gratidão, coroa!