Racismo latino-americano, xenofobia e classe: o que o caso de Moïse quer nos dizer?
Como você branco organiza sua revolta?
Hoje pela manhã as redes sociais pararam para presenciar um acontecimento racista, xenofóbico e que reforça narrativas de poder.
Acontece que Moïse Kabagambe, jovem de 24 anos, foi vítima de uma sequência de agressões após questionar o atraso de seu pagamento. O mesmo trabalhava em um Quiosque na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade.
Desta forma, gostaria de indagar a branquitude: qual de fato é a sua preocupação com as nossas narrativas? Vocês apenas compartilham as nossas mortes, ou praticam o antirracismo para que a produção da politica de extermínio com a população negra venha a ser interferida?
Existe um método de organizar a sua revolta? Até porque nós, pessoas pretas, estamos destinadas a sentença de morte, e mesmo tendo que sofrer todas as violências cotidianas, ainda assim tendemos a criar mecanismos de sobrevivência e denúncia, como bem nos ensina Audre Lorde.
Primeiro, parem de reproduzir a ideia de humanidade a esse corpo! Não somos humanizadas, e nem devemos ser. A humanidade por si só é um conceito que não foi criado para nós e pela gente. É necessário transmutar essa ideologia humanista! Afinal, de que forma devo ser humanizada?
Segundo, é necessário olhar para esse corpo e analisar os vetores de opressão existentes, além de ser um corpo negro, também é imigrante (veio do Congo, ou seja há um atravessamento xenofóbico além de racista).
Vale analisar o que moveu a sua vinda para o Brasil, logicamente o mecanismo central era fugir da guerra que lá existia. Tentou encontrar no Brasil um acolhimento. Contudo, em nosso país ainda existe o atravessamento do racismo latino-americano, como pontua Lélia Gonzalez.
Ademais, a classe desse corpo está implicada a pobreza. Imagina: ser um corpo negro imigrante, e ainda por cima viver em um país em que você é abandonado, e não tem respaldo financeiro para minimamente sobreviver? Logo, esbarramos no direito trabalhista.
O que por sua vez, refletirá em trabalho informal. Afinal, segundo o IBGE a informalidade atinge 47,4% dos trabalhadores negros no Brasil. E essa narrativa não seria diferente para Moïse. Logo, de que forma a exploração ao corpo dele deveria ser evitada?
Vale lembrar que trabalhar de graça é um crime, e que para um corpo negro é uma tendência essa dinâmica! A escravidão reflete os seus valores até hoje em dia, o Brasil Colônia em que vivemos não acabou, apenas se reinventou!
Por isso questiono, como você branco organiza sua revolta? Em quais projetos sociais, de empregabilidade e manifestações você tem colocado cara a tapa para cumprir a sua dívida histórica?
Reparação história não é apenas sobre favoritismo, mas sobre devolução. Sendo assim, é necessário devolver para as pessoas não-brancas sua condição de ser, estar e ocupar determinados espaços.