Olhando a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro é inevitável fazer a pergunta: por que deixar morrer para depois promover o renascimento? O prefeito do Rio, que, é inegável, não esconde ser feliz exercendo essa função, um dia sim, outro também alardeia esforços para revitalizar a área central, que compreende a região do Porto, para atrair investimentos, novos empreendimentos e moradores.

No entanto, a região central do Rio não é apenas aquele pedaço e basta circular um pouco mais para ver o abandono de muitas partes do Centro: Lapa, Estácio, Glória, etc. A Lapa, há alguns anos, foi revitalizada, atraindo muitos bares, restaurantes, boates, lojas e novos moradores. O ritmo era tão frenético que o trânsito era modificado a partir da noite de sexta-feira, devido ao enorme fluxo de pessoas nas ruas do bairro. A Feira do Rio Antigo, na Rua do Lavradio, voltou a ferver, com antiguidades, artesanatos, roupas, cultura e gente de todo país e de muitas partes do mundo.

Agora, mais uma vez a Lapa está no limiar do abandono. Há muitos estabelecimentos fechados, grandes lojas encerraram as atividades e pequenos comerciantes também. O que não faltam são placas de “vendo” e/ou “alugo” nas ruas Riachuelo e Mem de Sá. Um pouco mais e terão o mesmo cenário de abandono da Rua da Carioca.

Há dezenas de pessoas em situação de vulnerabilidade por todos os lados, prédios históricos em completo abandono, sujeira, violência e falta infraestrutura. São impressionantes os buracos no asfalto, a desproporção das tampas de bueiros e as diversas bandalhas no trânsito, veículos fazendo contramão, parados de qualquer forma e todo tipo de infração.

A impressão é que algumas regiões da área Central da nossa cidade merecem incentivos para atrair novos empreendimentos, mas não o todo.

Por que não revitalizar os tantos imóveis abandonados, transformar em moradias populares, promover espaços culturais e esportivos? Por que permitir que imóveis históricos, de arquitetura belíssima, sejam consumidos pelo tempo e pelo descaso até ruir?

Queremos uma cidade revitalizada, com oportunidades de trabalho, com capacidade de circulação, com investimento em cultura, incentivo à economia criativa e solidária, com menos desigualdade e com a valorização dos seus espaços de forma unitária. Não uma cidade partida, com infraestrutura para alguns e não para todas as pessoas. Eu quero vislumbrar e lutar por uma cidade do Rio de Janeiro para e de toda a gente.