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Renata Vilela é aquele tipo de atriz que a gente costuma olhar e dizer: que artista fora da curva! Multifacetada, a atriz, cantora e bailarina é uma inspiração para muitas pessoas negras que também sonham em ser artistas um dia. Com um currículo poderoso, Renata ganhou destaque no teatro ao interpretar – dentre outros trabalhos – o monólogo “O Pássaro na Gaiola”, que narra a trajetória de Ruby, uma escritora que revisita seu passado e confronta as memórias que a moldaram, abordando temas como racismo e patriarcado. 

No teatro musical, entre 2004 a 2011, ela integrou elencos de musicais marcantes como “Cats”, “Sweet Charity” (junto a Cláudia Raia), “Os Produtores” (sob a direção de Miguel Falabella) e a primeira montagem de “Chicago”, em 2004. E não para por aí, a atriz também tem trabalhos de sucesso no streaming: em 2019 fez parte do elenco de duas séries na Netflix, “Spectrus” e “Onisciente”, além de integrar a segunda temporada da série “Segunda Chamada”, da Globoplay. Atualmente, Renata tem se dedicado às filmagens do terror “Dentes Velhos”, que marca uma nova fase em sua carreira. 

E é com essa grande artista negra que batemos um papo hoje aqui na coluna.

Com vocês, a brilhante Renata Vilela:

1 – Como surgiu essa vontade de atuar e quais são suas maiores referências na arte? 

A vontade de atuar vem a partir do momento que entro nas artes, no caso o ballet clássico. Esse universo se expande e se qualifica quando ingressei no mercado do teatro musical em 2004 com “Chicago”, onde realmente percebo a importância de se contar história e o primor que é se apoderar delas com toda minha verdade. Sobre as minhas inspirações, posso citar as atrizes Ruth de Souza, Kerry Washington, a escritora Maya Angelou, Zezé Motta, Taís Araújo Viola Davis e, claro, a lista aumenta porque as influências são inúmeras e diversas dentro da música, dança enfim, acredito que um ator /atriz precisa beber de muitas fontes para ser preenchido de tantas riquezas de detalhes.

2 – Como está sendo esse desafio de fazer um filme de terror na sua trajetória como atriz?

Partindo do princípio que sou uma mulher preta protagonizando um filme, sei que isso é reflexo de um trabalho árduo que vem antes de mim, e que hoje juntamente com minha travessia só me faz refletir e experienciar que sou parte do mundo e que ele me diz respeito sim e, claro, encabeçar uma história é poder se apropriar, desfrutar de cada momento no set, e desenvolver uma personagem muito complexa, no caso, e muito bem encaminhada pelo diretor Armando Fonseca ao lado de atores incríveis do cinema como a querida Gilda Nomacce, Fernando Pavão, Felipe Torres, Ricardo Gelli, Che Moais, Stepan Nercessian e André Ramiro.

3 – O monólogo “O Pássaro na Gaiola” dialoga com sua vida pessoal? Em quais sentidos?

Dialoga muito com minha vida. Um projeto que idealizei em 2018, onde queria me colocar em desafios que fizessem sentido profissionalmente e pessoalmente; foi quando li o livro de Maya Angelou: eu sei porque o pássaro canta na Gaiola, que me arrebatou já de cara. Falar sobre o racismo, os enfrentamentos como artista e mulher preta, os conflitos criativos, essas relações comunicou comigo de maneira muito profunda. E o texto de César Mello foi muito bem escrito dentro dessa inspiração e coluna da artista Maya Angelou. Tentamos ir num caminho que abrisse espaço para cura e para poética desta obra, ressaltando alguns aspectos similares com minha história. A direção de Arlindo Lopes contemplou demais a atmosfera e os caminhos de tudo isso.

4 – Você acredita que a pauta racial avançou no Brasil?

As pautas estão sendo discutidas há muito tempo, mas o período pós-pandemia que presenciamos e o assassinato de George Floyd foi crucial para urgência da nova tomada de consciência onde o Black Lives Matter foi um movimento fundamental para uma mudança.

5 – Qual legado você quer deixar? 

Desde que tenho a compreensão real do meu propósito na vida, percebo que abro espaço para olhares que buscam inspiração, ou seja: eu Renata quando criança fui de encontro ao que de fato pulsava transformar minha vida, e através da arte com o alicerce de minha mãe abrindo caminhos para o possível. Quando olho para trás, vejo as infinitas possibilidades que pude adentrar nesse universo artístico como atriz, cantora e bailarina, e hoje posso protagonizar e criar pontes para futuras gerações; considero legado!