Quem tem medo do veganismo popular?
Veganismo popular une libertação animal, justiça social e luta anticapitalista.
O veganismo é a prática de solidariedade política com outros animais, manifestada concretamente pelo boicote a tudo que provém da sua exploração e dominação, além de ações em prol da libertação animal. Consideramos os outros animais como camaradas e, por isso, nos recusamos a ver seus corpos, e os frutos da exploração desses corpos, como alimento, vestuário ou qualquer outro produto.
Existem algumas correntes políticas dentro do movimento vegano, e nós defendemos e construímos o veganismo popular.
Nascido no Brasil, em 2018, o veganismo popular é um movimento ético-político, enraizado nas lutas anticapitalista e anticolonial, que busca superar a dominação dos animais humanos sobre os não humanos, e construir uma sociedade mais justa e ecológica, com respeito e emancipação para todos os corpos, sem distinção de espécie.
Essa corrente do movimento vegano se difere do “veganismo de consumo”, que defende escolhas individuais, muitas vezes de caráter elitista e baseadas em produtos ultraprocessados de grandes empresas exploradoras. O veganismo popular luta por libertação animal, ao mesmo tempo em que promove a reforma agrária, a agroecologia, a soberania alimentar e os saberes ancestrais, sendo construído a partir da classe trabalhadora, das periferias e dos territórios tradicionais.
Mas o veganismo só faz sentido, mesmo, se você entender as demandas desse movimento social. Não se trata de uma escolha alimentar qualquer. O que nós queremos é o fim do especismo.
O especismo é a organização social fundada na hierarquização das espécies, onde a suposta superioridade da espécie humana justifica a dominação e exploração das outras espécies, decidindo inclusive quais delas merecem cuidados e direitos (cães e gatos) e quais podem ser privadas de liberdade, torturadas e mortas para o consumo ou entretenimento humano.
O especismo também serve de base ideológica para outros sistemas de dominação. Funciona assim: a partir do momento em que aceitamos uma escala de valor da vida, onde “humano” está no topo e “animal” lá embaixo, instala-se o quadro conceitual que dá origem ao racismo, ao colonialismo e ao sexismo, pois basta “animalizar” certos grupos humanos (compará-los a animais) para declarar sua inferioridade e, como consequência direta, sua dominação é legitimada e naturalizada.
O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss já tinha dito isso nos anos 1970, quando falou que:
“Colonialismo, fascismo e campos de extermínio não foram desvios do humanismo ocidental, mas sua continuação lógica: ao traçar uma fronteira de direitos entre humanos e outras espécies, a humanidade depois deslocou essa separação para dentro de si mesma, desumanizando parte de seus próprios membros.”
Os antiespecistas defendem que respeitar todas as formas de vida é a condição para respeitar plenamente a própria humanidade. Em outras palavras, sem superar a dominação humana sobre as outras espécies não será possível superar os sistemas de dominação entre humanas.
E como foi o “humanismo ocidental” que instalou essa fronteira de direitos entre nossa espécie e todas as outras, entendemos a luta antiespecista como ferramenta na luta anticolonial.
Depois de entender o que é o especismo, fica fácil compreender por que devemos ser antiespecistas.
O antiespecismo é uma corrente filosófica e luta que afirma que a espécie à qual pertence um corpo não é um critério pertinente para decidir o seu direito à consideração moral. Antiespecistas buscam construir uma nova organização social, onde todos os corpos terão direito à liberdade, dignidade, cuidados e uma vida plena, independente da espécie. Como ato de coerência política, antiespecistas praticam o veganismo.
O nosso horizonte político é o fim do especismo, o sistema de dominação que nutre todos os outros. Por isso somos veganas: não queremos fortalecer, com nossas práticas, aquilo que denunciamos. E porque acreditamos que a emancipação animal é incompatível com o capitalismo e o colonialismo, nosso veganismo é popular.
Todas as pessoas que lucram com o sistema capitalista/colonial de predação e exploração da natureza, dos outros animais e de grupos humanos considerados subalternos têm medo do veganismo popular. E com razão!
A União Vegana Antiespecista é uma rede de divulgação do veganismo popular, formada por coletivos no Brasil e fora dele.