por Rafaela Collins

Na COP30, em meio a discursos técnicos, negociações tensas e compromissos multilaterais, uma iniciativa conseguiu romper a lógica tradicional que costuma confinar povos indígenas à lateral do debate climático. A Suíça, por meio da Swissnex e da Planetary Embassy, decidiu inverter a ordem: em vez de falar sobre os povos originários, abriu seu pavilhão para que eles mesmos falassem por si. Nesse espaço, onde ciência, arte, política e espiritualidade caminham juntas, uma voz se destacou, a de Ehuana Yaira Yanomami, escritora, pesquisadora, professora e uma das referências contemporâneas da resistência indígena no Brasil.

Sentada diante de uma plateia internacional, Ehuana não precisou de dados complexos para transmitir urgência. Ela falou da vida, do território, do corpo, do que significa existir em uma floresta que sangra. Explicou que, para o povo Yanomami, defender a Terra não é um projeto de governo nem um conjunto de metas: é um sentimento que se aprende antes mesmo de falar. Uma responsabilidade herdada de ancestrais que ensinaram a ler o vento, reconhecer a saúde do rio, entender a dor de uma árvore. “Nós sempre soubemos cuidar”, disse com firmeza, mas “o mundo só está percebendo agora”.

O público ouviu em silêncio. Diplomatas, cientistas, estudantes e empresários pareciam absorver, talvez pela primeira vez, a dimensão espiritual e humanista da crise climática. A Planetary Embassy conseguiu o que muitas COPs tentam, mas raramente alcançam: uma troca verdadeira, em que o conhecimento ancestral não é folclore, mas guia.

Ao final, Ehuana recebeu aplausos longos, não pelo espetáculo, mas pela verdade que carrega. Uma verdade construída na trajetória de quem nasceu na terra indígena Yanomami, filha do xamã Davi Kopenawa, ela cresceu entre escolas tradicionais e a sabedoria dos mais velhos. Tornou-se professora, tradutora, pesquisadora e uma das vozes mais importantes da literatura indígena contemporânea. Escreve sobre vida, cura, cosmologia e resistência, articula saberes acadêmicos com espiritualidade, conecta mundos que por muito tempo foram separados por preconceito e silêncio.

A Suíça abriu o espaço e Ehuana abriu caminhos e deixou um recado que ecoou pela sala e pela floresta:“cuidar do planeta é um dever de todos, mas nós já estamos fazendo nossa parte há milhares de anos”.