Promessas de cu(ra): a poesia do relacionamento transcentrado
Te amedronta o prazer travesti? Te enoja pensar nossas corpas em movimento? Nossa vida sexual é como uma incógnita pra você? O que esperar de uma travesti? Qual história eu deveria transcrever? Quero e tenho o direito e dever de colocar a minha corpa em possíveis sensações, orgasmos, arrepios e entrosamentos incontroláveis!
Te amedronta o prazer travesti? Te enoja pensar nossas corpas em movimento? Nossa vida sexual é como uma incógnita pra você? O que esperar de uma travesti? Qual história eu deveria transcrever? Por que a sua (foto)grafia sobre mim é limitante? Quero e tenho o direito e dever de colocar a minha corpa em possíveis sensações, orgasmos, arrepios e entrosamentos incontroláveis!
Não busco controle, tampouco a certeza de não estar neste lugar. Quero contar outras histórias, e nessas histórias entrar em êxtase. Gozar com a minha memória, e pela minha escrita! Quero fazer da minha poesia um belo chá de cuceta, quero banhar-me de leites que só ela poderá me proporcionar.
Dai-me fogo; dai-me chama; quero ardência na minha cama. Me aposse, me possa e me coloque em sua boca. Que eu possa digitar tesão em seu corpo com a minha língua. Me tenha como mantra.
Quero que o seu cronômetro enfie em mim o seu ponteiro. Quero sentir as horas rodando e rodando e rodando lá, bem dentro de mim. Me sinta. Te sinto. Até que o relógio se desgaste, e não exista mais encaixe.
Quero que o verbo seja de ação em nossa troca, e que o substantivo seja o puro sentimento. Que a navalha acalorada arrepie o nosso corpo como quem arranca de nós o estresse, quero estar em transe vulcânico. Que nossas placas tectônicas se expandam ao extremo.
Quero isso, e muito mais, rogai-nos Deusa Travesti a possibilidade de me sentir amada, sendo amada. Me descarte, e cate em sua luta. Pois sei que vim do lixo, e não da costela de Adão. Pois sei que sou cobra, rastejo pela terra como quem atende ao chamado do ocó. Me reciclo a cada instante, uma pele deixada ao chão, outra que surge ao cobrir a minha carne.
Sou carnuda, mas não só uma carne a ser comida, sou sobretudo carnívora. Só de pensar em edy minha neca se esquenta feito uma tora. Ofereço os meus feitiços, e os meus frutos.
Daí a Eva e Adão o fruto proibido. Faça-os comer da minha porção, dê a chance de me espremer todinha em sua mão. Sei bem que antes de tudo existir Deus não disse Haja Luz, ele disse: TRAVESTI. Eu não sou o princípio, tampouco a luz e muito menos o verbo. Para além do verbo, eu sou uma trava desse atemporal. É além. Muito além. Além até mesmo de mim e do que posso imaginar.
Sou exótica, mas também sou a moda. Pra ficar comigo tem que ter dedada, tem que ter dado, tem que ter chupão. Mas não quero ser amamentada por leites envenenados, e com ferimentos nesse meu cuzão. Longe de mim os ocós que me matam.
Assim como diz Linn da Quebrada, “se tu quiser ficar comigo, boy vai ter que enviadescer”. Por isso é que o meu Pauer não é somente o ato de petrificar os homens que me olham, é sobretudo de enviadescer aqueles que me crucificam. Me olhe como Medusa, e se sinta (a) pica(do) pela força da minha cobra. O prazer da dor, e a dor do prazer expostos sobre o altar entre poeiras velhas preenchidas com histórias velhas que o mesmo terá de deixar para trás.
Quero as afeminadas bem mavambas, esse é o meu amor. A quebra deles, a trava deles. Pra sentir o que tenho a oferecer, pra sentir da minha sentada, da minha pegada e da minha chupada ainda há muito do que conquistar. Posso até ser dada, tão dada que já até rodei a jequite, mas não sou bagunça, e você a de me respeitar!
Não quero prazer desses, quero me aflorar no colo de um boyceta! Chupar, e chupar, e chupar bem gostoso. Olhar para a sua cara e dizer: QUER MAIS MOÇO? Beijar o seu corpinho inteirinho, os seus peitos e olhar em seus olhos como quem está sedenta por um beijo.
Me deliciar com sua buceta bem molhadinha, e dizer olhando nos seus olhos: mas que homem do caralho! Que eu possa sentir a valia e o poder dessa buceta com a minha neca. E que me engula todinha, que me coma todinha. Que se saboreei do meu sabor. Que eu possa me afogar em seu imenso jato de prazer.
Já até sinto a minha neca grossa, latejando, veia bem marcada, com a sua boca me chupando. Sem parar, sem cessar. Quero esse amor, quero essa nuance de prazer. É uma travesti de pau com um boyceta: é o caminho. São os prazeres transvestilizados
Mas também quero sentir a profanidade travesti! Quero estar e vivenciar com outras travestis, que venham as sapatrans. Que pulsem seus tesões no fundo do meu edy. Ou que seja a minha em seus edys!
Quero poder me deliciar da neca feminina, quero poder chupar uma adé bombada. Ou até mesmo me deixar sentir o corpo de uma outra adé dundun. Quero senti-la dentro de mim. Duas travas num sexo incessante, quero dar o meu bolo de padaria. É uma travesti de pau com outra travesti de pau: é o caminho. São os prazeres transvestilizados
Mas aposto que você já cansou, né? Tá difícil de ler, cis, eu sei! Essa aqui é a escrita da Bíblia Sagrada Travesti, não é pra você entender, é pra você chupar e engolir tudinho, sem reclamar. Não somos códigos fáceis de decifrar!
Eu não sou feita pra ser datável pra vocês, chego a rir daqui, vão ter que ralar muito pra entender. Não quero te explicar nada, leia e releia, releia e leia pra ver se você cata!