Presente de fim de ano
Enquanto uma negra em diáspora eu comemoro o Kwanzaa, e na tradição do Kwanzaa nós devemos presentear nossos irmãos com presentes não-industriais, de preferência coisas feitas por nós, então essa poesia é o meu presente pra vocês, como uma comemoração de fim de ano.
Caros leitores
Devido a esse período de fim de ano, decidi hoje não postar uma coluna comum, e sim uma poesia para nós transicionarmos de ano com um pouco de artivismo, já que enquanto uma negra em diáspora eu comemoro o Kwanzaa, e na tradição do Kwanzaa nós devemos presentear nossos irmãos com presentes não-industriais, de preferência coisas feitas por nós, então essa poesia é o meu presente pra vocês, como uma comemoração de fim de ano. Queria desde já desejar a todos um ótimo 2020 que esse próximo ano vocês recebam todo o axé dos orixás. Fiquem bem, fiquem vivos, amo vocês demais!
E agora com vocês, um pouco de poesia.
Poesia: A Plenitude do Sistema
“Em plena praça pública no brinquedo do parquinho mataram uma mulher negra trans enforcada
Em plena luz do dia mais uma mulher negra por feminicídio é assassinada
ES-PAN-CA-DA
Pelo próprio marido dentro da própria casa
E só nesse tempo que eu tava aqui falando mais um jovem negro morre em desgraça
PLENA
Essa é a plenitude do sistema
Que tenta
Colocar a tudo custo em nossos olhos vendas
Fazer nós não enxergarmos como eles nos matam de forma lenta
Tentam nos proibir de pensar, de estudar, de sermos inteligentes
Mas esse discurso que tentam nos empurrar pra nos enganar, a mim não convence
Lutando pelo meu povo eu vou faço diferente
Eu sigo em frente
Afronto e questiono o porque do meu povo sofrer tanta humilhação
O presidente gosta de mentir dizendo que no Brasil ninguém passa fome não
Mas ontem mesmo eu vi um monte gente revirando o lixo pra conseguir achar pelo menos uma só refeição
Botam a polícia na favela dizendo que com o tráfico terminarão
Mas porque não perguntam pro presidente que tanta cocaína era aquela no avião?!
(PÁ PÁ PÁ) começa a sinfonia dos tiros, nada fora do cotidiano, mais uma vez a polícia invadiu
Na parede de uma escola de repente aparecem marcas de tiro de fuzil
Agora se ouve os gritos de gente DESESPERADA
Morreu Maria Eduarda
Apareceu no noticiário mas, um ano depois… Ninguém falou mais nada
Marcos Vinicius tomou tiros do blindado
Um garoto inocente de 14 anos foi o alvo por eles almejado
GENOCIDA É O ESTADO
Que faz os corpos dos meus serem desfigurados
Mas eu não vou mais ficar calada
Sabendo que agora é a injustiça que anda de farda
Que a policia entra na favela pra dar em um homem negro chicotadas
E eu to pronta pro afronte porque minha mãe ja sempre me dizia
Se te baterem, você revida
E eu não to sozinha
É que eu sou poeta VIVA
Eu to lutando pelos meus e pelas minhas
Porque enquanto uns se apropriam do discurso e da cultura do povo negro só pra ganhar aplausos; o meu povo continua perdendo a vida
Só quem é negro de verdade sabe como é carregar o peso do estado genocida
E eu que com letras miro e acerto fascistas todos os dias
Torço pra que um dia não seja a minha cabeça que esteja na mira
É que eu carrego o trauma de Marielle que por sua luta foi morta pela milícia
A dor de Cláudia que foi ARRASTADA pela viatura da polícia
E a perda de Pedro que dentro de um extra foi assassinado pelo segurança por asfixia
Torturados, sufocados, ASSASSINADOS, é assim a vida dos crias
Irmãos e irmãs minhas
Eu vou continuar lutando por nós mesmo sabendo que eu posso morrer só por recitar essa poesia
Porque eu to tão engasgada
Que machismo pra mim não passa
Na LGBTfobia eu vou dar um basta
E esse sistema racista, eu vou derrubar nem que seja na marra!
— Meu nome é Valentine, JAMAIS Valentina
Se quiserem me encontrar vão me achar num slam, NUNCA NUMA ESQUINA!”