Por Renan Cuel para cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube

A ginástica artística é uma das modalidades que mais impressiona o público. Voos, giros, saltos, dança, leveza, força, dão graça ao esporte que infelizmente é assolado por diversos motivos no Brasil e no mundo. Escândalos envolvendo abusos sexuais, físicos e psicológicos ganharam a mídia nos últimos anos. Por décadas, atletas sofreram calados e foram silenciados por medo de perder a chance da tão sonhada vaga olímpica. Isso aconteceu e acontece no mundo todo.

Muitas vezes, existe a insegurança das normas e instituições que bancam o esporte, seja governamental ou particular, então posicionar-se torna-se uma barreira. Causando os questionamentos: como um atleta vai se posicionar contra seu patrocinador? Como um atleta militar (Forças Armadas) vai falar de assuntos proibidos pela instituição? Como um atleta apoiado pelo município, estado, vai se posicionar contra a gestão que governa?

Tudo isso gera consequências, ou seja, ser atleta no Brasil é algo complexo demais, onde o futebol é o esporte mais valorizado, se torna difícil formar mais atletas na modalidade de ginástica.

O primeiro obstáculo é a desigualdade social. A ginástica é uma modalidade que precisa de diversos equipamentos que são caros. Montar um centro de treinamento de ginástica é diferente de montar uma quadra de futebol ou um tatame, que são mais simples em questão de estrutura.

No Brasil, há anos existem poucos centros de treinamentos (Clubes) que têm aulas e formam atletas. Estima-se que tenha 5 centros de treinamento no país, geralmente só a classe média alta e atletas com bolsas frequentam esses clubes.

Aulas de ginástica são caras, manter um ginásio é caro e com isso é difícil montar estruturas particulares como acontece normalmente com outras modalidades. Os outros centros de treinamento que existem são municipais, onde a cada gestão muda-se tudo. Com isso, fica difícil manter constância e formar atletas de alto nível na modalidade.

Somente atletas de alto rendimento recebem salário dentro da prática esportiva. E para chegar nesse nível envolve muitos fatores, porque patrocinadores pequenos muitas vezes não conseguem apoiar esses atletas.

Existe uma complexidade da regra 40 (regra que restringe o direito dos atletas de autorizar o uso do seu nome e imagem durante as Olímpiadas). Com tantos obstáculos, atletas e pessoas que sonham em praticar a modalidade sofrem com isso no Brasil, como por exemplo, poucos projetos sociais e de inclusão a modalidade, e também poucos clubes no país.

O impacto no final das contas gera a formação de poucos ginastas em alto nível. Exemplo disso foi a não classificação da equipe feminina de ginástica para concorrer as olimpíadas de Tokyo. Com poucas atletas e algumas lesionadas, ficou complicado conquistar a vaga para o Brasil. Por isso somente 2 atletas do país irão estar nas olimpíadas e não a equipe toda.

O cenário infelizmente é complexo demais, a desigualdade social, a desvalorização aos atletas, técnicos, equipe multidisciplinar e até expectadores, acabam resultando negativamente ao avanço do esporte. Fica nossa torcida para esses atletas que estão competindo conseguir mais visibilidade, resultados, popularizar a modalidade e possibilitar mais inclusão.

Renan Cuel é atleta e ginasta brasileiro