A segunda maior cidade de Minas Gerais – que poderia ser referência na implementação de ações inteligentes e inovadoras para o enfrentamento das mudanças climáticas – ganhou o noticiário nacional, na última semana, com a trágica morte da influenciadora Jhei Soares. A jovem, de 28 anos, faleceu após ser arrastada por 300 metros em meio à enxurrada que tomou conta de uma das principais avenidas de Uberlândia, Rondon Pacheco.

Talvez se possa salientar a raridade do acontecimento, uma vez que a noite do último domingo na cidade foi marcada por uma precipitação de 55 milímetros que ocorreu em menos de 30 minutos. No entanto, nos últimos dois meses, a avenida já foi acometida por quatro inundações, provocando estragos e prejuízos aos moradores e aos comerciantes locais.

O aumento da intensidade e da frequência de eventos climáticos extremos são apontados como consequências da mudança do clima, agravado pelo efeito estufa, devido ao aumento da queima de combustíveis fósseis, e pela consequente elevação de temperatura média do planeta. O Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC/2023) apontou a probabilidade do aquecimento global exceder o limite de 1,5ºC durante o século XXI e tornar ainda mais difícil limitar o aquecimento abaixo de 2ºC.

As consequências serão o aumento da gravidade dos impactos em sistemas naturais e humanos, como as recorrentes inundações e enchentes, risco de perda de espécies, redução da disponibilidade de água, problemas de saúde mental, proliferação de doenças infecciosas, deslocamentos forçados, incêndios florestais, entre outros.

A importância e a legitimidade dos municípios no enfrentamento da emergência climática são fundamentais, uma vez que são as administrações locais que estão mais próximas dos cidadãos e que vivenciam diretamente os impactos das mudanças climáticas em suas comunidades. Conforme a Declaração do Rio e a Agenda 21, as autoridades locais têm um papel essencial na promoção do desenvolvimento sustentável e na implementação de estratégias de adaptação e mitigação, alinhadas aos compromissos globais.

Nesse sentido, a Prefeitura de Uberlândia poderia apresentar respostas a curto prazo, como a instalação de sistema de alarmes para alertar a população diante das fortes chuvas, a ampliação da fiscalização para evitar a expansão desenfreada do setor imobiliário sob áreas de preservação ambiental e o investimento em ações ambientais para reduzir a emissão de dióxido de carbono.

A longo prazo, a gestão municipal deveria implementar projetos de infraestrutura relacionados ao conceito de “cidade esponja”, ou seja, soluções naturais baseadas na natureza, como corredores verdes e bolsões, para reter água da chuva para aumentar a permeabilidade do solo. Como deputada federal, apresentei um projeto de lei para garantir prioridade na destinação de recursos públicos do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima para implementação de ações baseadas nesse conceito. A falta de financiamento é apontada no Relatório do IPCC como uma das principais barreiras para a ação climática.

Sem ações urgentes e eficazes nas cidades, as mudanças globais do clima ameaçam cada vez mais a infraestrutura urbana, a saúde e o bem-estar das gerações atuais e futuras. Os eventos climáticos extremos se tornaram intensificadores das desigualdades sociais nas cidades, fazendo com que as populações vulneráveis, que menos contribuíram historicamente para a mudança atual do clima, sejam afetadas de forma desproporcional e, até mesmo, fatal. Não podemos mais naturalizar perdas humanas pela negligência e falta de ação efetiva dos governos locais.