Por Kariny Delahaye para cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube

Tudo na vida é político. Desde a maneira que nos posicionamos verbalmente até o número que um jogador escolhe para carregar nas costas.

No futebol, toda criança boa de bola sonha em ser o camisa dez. E é por isso que vestir a camisa sete sabendo toda simbologia que ela carrega em um país majoritariamente católico e neopentecostal, que invade terreiros e discrimina religiões de matriz africanas diariamente, é mais do que significativo, é educacional.

O sete, número pelo qual o jogador de futebol Paulinho estampa tanto na seleção olímpica quanto no Bayer Leverkusen, simboliza a espiritualidade e a harmonia. São sete os dias da semana, sete cores no arco-íris e podemos transitar dos sete mares até as sete linhas dos Orixás.

E Orixá é amor, é ancestralidade, é resistência.

O mesmo sete de Paulinho é também o sete de Exú, aquele que movimenta e abre os caminhos. E ao sair do banco de reservas e liquidar a partida contra Alemanha, o adversário mais difícil do grupo D, Paulinho abriu de vez o caminho para a classificação do Brasil para a próxima fase das Olimpíadas.

Vinte minutos em campo e um único chute. Foi tudo que Paulinho precisou para marcar um golaço em sua estreia em Tokyo. Como se um filho de Oxóssi precisasse de mais de uma flecha para caçar. Ainda mais em uma quinta-feira.

 

View this post on Instagram

 

A post shared by NINJA E.C (@ninjaesporteclube)


O gol não podia ser diferente. A clássica puxada para direita e a chapada seca, nojenta, no ângulo. O jogo não teve torcida para coroá-lo, mas a narração histórica de Gustavo Villani em alto e bom som foi certeira: foi “um gol para Exú aplaudir”.

Na comemoração, Paulinho ainda nos brindou com o sinal do “ofá de Oxóssi”. Uma flecha direto de Tokyo que nos atravessou na espinha e trouxe esperança de um Brasil mais plural, pelo menos por alguns minutos. Sem dúvidas, uma das mais belas manifestações olímpicas que já vi em meio a um largo sorriso e a serenidade no olhar de quem sabe que nunca foi sorte, sempre foi Exú.