Guilherme Boulos: Onde está Santiago Maldonado?
É uma fórmula explosiva: ataque a direitos sociais e uma polícia repressiva contra quem luta. Neste contexto, os sombrios “desaparecimentos” políticos voltam à cena.
Há mais de um mês a Argentina tem feito esta pergunta. Santiago Maldonado é um artesão e ativista de direitos humanos. Foi visto pela última vez no dia 1º de agosto na província de Chubut da Patagônia, que fica no sul do país. Nessa região, vivem quase 2 milhões de mapuches, grupo indígena muito importante tanto na Argentina quanto no Chile.
Assim como no Brasil, as terras indígenas argentinas vem sendo constantemente atacadas. Um desses ataques aos territórios mapuches é feito pela empresa Benetton, que produz roupas e ficou famosa ao fazer propagandas contra o racismo.
Uma coisa é propaganda, outra é a realidade. Na vida real, os empresários da Benetton querem arrancar milhares de indígenas de um território de 900 mil hectares.
Santiago Maldonado sumiu quando foi participar de uma manifestação de solidariedade aos mapuche no sul da Argentina. As forças militares atacaram o ato e vários manifestantes relatam terem visto Maldonado ser golpeado, detido e algemado. A polícia nega que tenha detido o jovem.
Diversas manifestações públicas vem sendo realizadas desde então, para pressionar o governo Macri sobre o desaparecimento. Milhares de pessoas ocuparam o centro de Buenos Aires com essa pergunta em faixas e cartazes. A resposta do governo foi atacar e prender mais manifestantes.
Desaparecimentos, torturas e violência contra aqueles que lutam marcaram grande parte da história da América Latina. A Argentina é um caso lamentavelmente exemplar dessa realidade. Estima-se que 30 mil pessoas desapareceram no país entre 1976 e 1983, durante um dois períodos mais sombrios da ditadura.
A receita neoliberal de diversos governos da América do Sul, em especial Macri e Temer, tenta empurrar goela abaixo retrocessos profundos. Os ataques aos povos indígenas são parte desta agenda. No Brasil, com a proposta de entrega da Renca para as mineradoras, o absurdo Marco Temporal e o recrudescimento dos massacres, como o caso dos Gamela no Maranhão. Na Argentina, com o assédio empresarial nas terras dos mapuche.
Ao mesmo tempo, as mobilizações de resistência são cada vez mais criminalizadas . É uma fórmula explosiva: ataque a direitos sociais e uma polícia repressiva contra quem luta. Neste contexto, os sombrios “desaparecimentos” políticos voltam à cena. É preciso intensificar a campanha e o grito: onde está Santiago Maldonado?