Olá, eu sou Valentine. Preta, trans e nova colunista da Mídia NINJA
Quando pensei em escrever essa coluna fiquei muito tempo pensando sobre o que eu escreveria para dialogar com vocês, e por ser uma mulher trans negra, logo pensei na necessidade de se falar sobre raça, gênero e classe do ponto de vista de uma mulher trans negra.
Caros leitores…
Quando pensei em escrever essa coluna fiquei muito tempo pensando sobre o que eu escreveria para dialogar com vocês, e por ser uma mulher trans negra e admiradora da obra de Angela Davis, logo pensei na necessidade de se falar sobre raça, gênero e classe do ponto de vista de uma mulher trans negra. Debatendo assim inclusive a falta de intersecção dentro dos movimentos sociais, até mesmo daqueles que se dizem interseccionais.
Por ser trans, eu obviamente estou sempre mais atenta ao CIStema e a cisgeneridade de toda estrutura. A verdade é que assim como o racismo, a transfobia também é estrutural e o apagamento de pessoas trans na sociedade ainda é muito vigente. E pra uma mulher trans negra o maior desafio é “segurar o mundo nas costas”, isso por conta de toda estrutura racista, transfóbica e misógina.
Queria dialogar com vocês também sobre os muitos atrasos ainda presentes em nossas lutas, as trans negras pouco são pautadas dentro das rodas de conversas e debates dos movimentos negros. No feminismo lésbico há um claro apagamento das mulheres trans lésbicas e bissexuais, e pouco se fala sobre mulheres trans morrerem por conta do feminicídio também. E olha que pra esse último item nem é preciso usar de uma extrema inteligência para perceber tal atrocidade. Apenas analisando os dados já fica nítido: “das vítimas de transfobia, 97% são mulheres trans e travestis”. E aí eu pergunto a vocês, se as mortes de mulheres trans fossem basicamente por transfobia então por que as mulheres trans são 97% das vítimas, enquanto os homens trans são 3%?
Entendo, caros leitores, que pode ser um pouco árduo às vezes ter que olhar e empatizar para com causas e pessoas que estão totalmente fora do “seu mundo”, porém isso é parte essencial para nossas causas, até mesmo para que se tenha uma real intersecção, inclusive porque as pessoas trans negras sofrem sendo muitas vezes colocadas em locais de invisibilidade por conta dessa falta de intersecção. Basta ver que as mulheres trans e travestis muitas vezes por não serem inseridas na sociedade vivem uma vida mais noturna, até por conta de seus trabalhos na grande maioria das vezes, já que por serem totalmente desprezadas pelo mercado de trabalho acabam recorrendo à prostituição. E quando essas lutas deveriam abarcar essas pessoas, acabam fazendo com que elas se sintam excluídas ao não pautarem suas dores, vivências e problemas sociais de uma forma real.
Quero também atentar aos caros leitores desta coluna para o fato de que mulheres trans negras são as que atravessam todas essas questões da sociedade sobre a raça, a classe e o gênero. Sendo assim, para uma luta interseccional, nós precisamos olhar de todos os ângulos e desconstruir esses muros implementados pela sociedade, inclusive o muro da cisgeneridade, pois o CIStema ainda controla até mesmo os movimentos onde pessoas trans deveriam de ser inseridas.
Portanto, essa coluna será sobre isso, e ao longo dela iremos nos aprofundar nesses debates, nessas perspectivas e visões, para assim quem sabe JUNTOS construirmos até mesmo alternativas e modos de inserirmos a transgeneridade na sociedade, em nossas causas e em nossas vidas também, e assim derrubaremos todos estes muros que segregam a sociedade ainda hoje.
— Meu nome é Valentine, JAMAIS Valentina
E vai ter resistência trans SIM dentro da Mídia Ninja.