O voto é secreto e necessário: o voto liberta
Diante dos portões que nos levam às urnas, um alento e alerta: o voto é secreto
Por Ariel Cahen
O Congresso Nacional preservou aos brasileiros, em agosto do ano passado, a garantia do voto secreto. Do voto auditável pela Justiça Eleitoral, mas não pelas milícias criminosas, nem pela sanha de empregadores ávidos pela supressão do direito democrático de escolha dos seus subordinados. Uma vitória importante para o Brasil – e que poderá se mostrar decisiva daqui a dois dias, já no primeiro turno das eleições gerais que se aproximam.
Ao longo dos últimos dias, pesquisas eleitorais realizadas pelos principais institutos do país apontam para a possibilidade real de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nesse domingo (2), sem necessidade de tira-teima em 30 de outubro. A mais recente delas, divulgada ontem pelo Datafolha, aponta o ex-presidente com 50% dos votos válidos ante 36% de seu principal opositor e atual mandatário Jair Bolsonaro. No limiar da decisão.
Mas há, para além da campanha de Bolsonaro e das demais candidaturas à presidência, um adversário a ser vencido por Lula – e todo o seu eleitorado – nas horas que separam mais de 150 milhões de brasileiros do contato com as urnas: o medo.
O mesmo Datafolha que sinaliza a possibilidade de vitória nesse domingo revelou, em 15 de setembro, a menos de 40 dias do pleito, que 40% dos eleitores brasileiros acreditam serem prováveis os casos de violência política em 2 de outubro.
A Rede de Ação Política pela Sustentabilidade, em estudo promovido em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e divulgado pelo G1 na mesma data, aponta que 67,5% dos brasileiros têm medo de serem agredidos fisicamente por sua opção política. Incidentes que já deixaram o campo das projeções e têm se intensificado nas últimas semanas, com diferentes relatos pelas mais diversas regiões do país. Agressões e assassinatos com motivação eleitoral que contribuem para fortalecer a eficácia dos discursos de acirramento e de ameaças estimulados pelo Governo ao longo dos últimos meses – e que apresentam resultados estatísticos preocupantes. 9% dos entrevistados pelo Datafolha admitem deixar de votar por medo de violência – número duas vezes maior entre eleitores do ex-presidente em relação aos que declaram voto em Bolsonaro.
Os dados são claros: depois de Lula e do atual presidente, primeiro e segundo colocados, respectivamente, nas intenções de voto, está o medo. O medo da expressão. O medo do exercício de um direito básico e essencial ao processo democrático: o voto.
Em meio a tantos esforços dedicados à virada útil nesta reta final, uma reflexão se faz oportuna: serão fundamentais para uma eventual decisão em primeiro turno, além dos eleitores de Simone e Ciro, é claro, os votos que hoje se permitem sucumbir ao terceiro colocado nas pesquisas. O medo.
Diante dos portões que nos levam às urnas, um alento e alerta: o voto é secreto. E necessário. O voto liberta – de verdade.