Por Wagner França

A cassação do mandato do deputado federal Glauber Braga é mais do que um ataque a uma figura combativa da esquerda: é o retrato do esgotamento da política pequeno-burguesa que setores da própria esquerda vêm adotando há anos, com base na judicialização seletiva da política. Glauber, um dos poucos parlamentares com firmeza ideológica e coragem para enfrentar o sistema, está prestes a ser retirado do Congresso por um processo que escancara o autoritarismo das instituições e o caráter de classe do Estado brasileiro.

Glauber Braga não representa apenas uma candidatura ou um partido. Representa uma parcela da população que exige ruptura com o sistema, que se identifica com a luta popular, com o anticapitalismo, com o anti-imperialismo e com a denúncia clara dos interesses burgueses por trás das decisões do Parlamento. Sua cassação não é apenas a cassação de um mandato: é a tentativa de silenciar o incômodo, de apagar uma voz que não se dobra à ordem vigente.

O mais trágico — e revelador — é que essa ofensiva contra Glauber acontece depois de anos em que setores da esquerda institucional alimentaram a ilusão de que era possível “limpar” o Congresso caçando mandatos da extrema-direita por meio de comissões, denúncias e processos regimentais. Mesmo que as denúncias fossem legítimas, a aposta em vencer o inimigo nas regras do jogo burguês mostrou-se não só ineficaz, como suicida. Ao se utilizar da institucionalidade contra seus adversários, esses setores ajudaram a reforçar mecanismos que agora se voltam contra os poucos parlamentares de esquerda com compromisso real com o povo e com a transformação radical da sociedade.

A cassação de Glauber revela o desprezo à soberania popular. Ele foi eleito com milhares de votos. Retirá-lo por meios institucionais, sem crime comprovado, é negar o princípio da representatividade e confirmar que a democracia burguesa só vale enquanto serve aos interesses da classe dominante. Quando a institucionalidade é ameaçada por ideias revolucionárias, ela fecha as portas, endurece e ataca.

É importante dizer que Glauber, provavelmente, nunca compartilhou dessa lógica pequeno-burguesa de judicialização da política. Sua prática parlamentar sempre foi de enfrentamento direto, sem concessões. No entanto, ele se vê agora vítima de um sistema que, por muito tempo, foi legitimado por seus próprios aliados. A esquerda que se contenta com cargos, emendas e alianças, mas não mobiliza as ruas, não cria poder popular, está fadada a ver seus melhores quadros sendo engolidos por um sistema que ela mesma reforçou.

A greve de fome de Glauber, sua resistência nas comissões e nos discursos, são atos de coragem que devem ser reconhecidos e amplificados. Mas a principal lição desse episódio é clara: não há atalhos institucionais para a luta de classes. A política pequeno-burguesa, conciliadora e legalista, apenas legitima o próprio veneno que agora é aplicado contra um de seus maiores críticos.

A resposta não pode ser outra senão o retorno à luta concreta, à base, às ruas. Glauber pode perder o mandato, mas seu exemplo precisa se multiplicar. É preciso superar as ilusões na democracia liberal e construir uma alternativa radical, popular e anticapitalista. Só assim a esquerda deixará de ser refém de um jogo viciado e passará a disputar, de fato, o poder real: o que vem de baixo e rompe com tudo que está aí.