O tango que os argentinos não gostaram
Historicamente o país desempenhava a liderança no Índice de Desenvolvimento Humano, auferido pela ONU, na América do Sul.
A Argentina neste momento requer uma análise sobre os resultados dos planos de ajuste econômicos neoliberais do governo Maurício Macri iniciado em 2016. Em linhas gerais significaram concentração de renda e redução das condições de vida da massa trabalhadora. Historicamente o país desempenhava a liderança no Índice de Desenvolvimento Humano, auferido pela ONU, na América do Sul.
Invertendo as políticas empreendidas por Nestor e Cristina Kirchner, Macri alinhou sua gestão com a dolarização no âmbito cambial e busca do superavit no fiscal. Este paradigma resultou em recessão, diminuição dos salários e elevação da concentração de renda. O resultado foi um hiato entre a classe trabalhadora e os endinheirados.
A indexação com a moeda estadunidense subiu o patamar de preços dos produtos bem como das tarifas públicas e privadas; energia, transporte e comunicação passaram para o setor privado, e o aumento da rentabilidade exigida pelos conglomerados estrangeiros tensionou muito o orçamento das famílias. Desta forma, as receitas das companhias passaram a ser dolarizadas enquanto os salários em pesos perderam para uma inflação anual de 35%. As correções permitidas pelo governo para salários e aposentadorias tinha um teto de 15%,quando não zeravam com desemprego crescente.
Uma das maneiras de atrair o capital financeiro internacional foi aprovar leis de proteção e livre circulação. A rentabilidade era ainda impulsionada por fortes incentivos. O ambicioso programa não apenas desestatizou o país mas também desnacionalizou. Os grupos locais que levaram séculos para se formar ficaram sem capacidade de competição frente as multinacionais, entraram num processo de perdas desindustrializando o país. Muitos passaram a ser meros distribuidores de manufaturados chineses, estadunidenses e europeus.
Diante deste contexto de um setor produtivo sem condições de gerar divisas por falta de apoio e incentivos,o governo escolheu a recessão como forma de diminuir demandas que desequilibravam as contas externas.
Medidas de contração da atividade econômica via redução de crédito ou aumento de juros básico aos 42%, foram conjugadas por medidas fiscais de aumento de impostos, além da subida do dólar que comprimia ainda mais a renda. Esta situação mostrou um alto custo de produzir golpeando o consumo e emprego. O plano recessivo se realimenta para um piso mais baixo do precipício, entre abril e maio, na eminência de não honrar seus compromissos,o dólar disparou asfixiando ainda mais o governo, trazendo de volta depois de décadas o FMI.
Estes capítulos elevaram a concentração, a medida que os endinheirados que tem acesso ao dólar via exportações, obtiveram ganhos com especulação cambial e posteriormente com a alta do juros quando o governo passou utilizar como forma de conter a moeda estrangeira. Enquanto o capital crescia com o dólar a 30 pesos e juros a 45%, os salários e aposentadorias tinha reajuste abaixo da inflação. O país perdeu a independência produtiva, a população ,o emprego e o país, a soberania com uma co-gestão com o Fundo.
A sua cartilha passa determinar que os reajustes para 2019 que sejam de apenas 8% para mensalistas, com uma previsão ‘otimista ‘ inflacionária de 17%, significa que a desvalorização do total de salários deve vir de uma menor reajuste ou literalmente de demissões. O segundo elemento é a exigência de liquidar o ‘Fundo de Garantia de Sustentabilidade de Anses’ que na verdade é a principal fonte de recursos para cadeia produtiva, montante formado por anos de contribuição dos trabalhadores,empresas e pensionistas. Na prática é encerrar o crédito e apoio as empresas argentinas, que poderiam gerar produção e emprego ,portanto aportando mais valores ao fundo. Os recursos auferidos com encerramento, deveriam segundo o FMI, quitar credores e reduzir o déficit público.
A terceira questão refere-se a exigência do FMI em mudar a ‘ Carta Orgânica do Banco Central’. Esta medida visa impedir que o BC empreste valores ao executivo para pagar salários, hospitais ou programas de educação. Assim o banco máximo ficaria independente do governo e por conseguinte mais vulnerável ao sistema financeiro internacional e seus interesses.
Argentina refém deste modelo demonstra cada vez mais rejeição pela gestão Macri. Segundo a pesquisa mensal do Centro de Estudos de Opinião Pública (CEOP) de 5 agosto, 64,3% acham que o país está num rumo errado.Seguindo os dados, 77% condena a situação econômica do país,71% tem menos confiança no governo que há um ano atrás e 60,3% concluiu que o acordo com o FMI é prejudicial ao país. Arrependido do tango que ensaiou com Macri, 39,7% segundo Agência Digital de Notícias (ADN) daria a vitória a Cristina Kirchner em 2019, frente aos 30,3 do atual executivo, cadenciando os passos para o fim destes anos de terror.