O Rio que as crianças querem
A realidade das políticas de segurança pública no Rio tem atingido de forma fatal as pessoas mais vulneráveis, que, segundo a Constituição Federal, deveriam receber proteção prioritária por parte do Estado e da sociedade: crianças e adolescentes.
Por Renata Souza e Thais Ferreira*
A realidade das políticas de segurança pública no Rio tem atingido de forma fatal as pessoas mais vulneráveis, que, segundo a Constituição Federal, deveriam receber proteção prioritária por parte do Estado e da sociedade: crianças e adolescentes. Uma sociedade incapaz de proteger suas crianças e adolescentes é uma sociedade sem futuro.
Nos últimos sete anos, segundo dados do estudo Futuro Exterminado, do Instituto Fogo Cruzado, 616 crianças e adolescentes foram alvejados por balas. Deste total, 278 foram assassinados. Muitas dessas crianças estavam brincando, a caminho da escola ou até mesmo dentro de casa no momento em que foram alvejadas. Em 47,6% dos casos, o contexto desta violência foi causado por operações policiais em favelas e periferias da cidade.
As favelas da região metropolitana do Rio são os únicos locais onde as leis parecem não existir, onde há autorização para matar, sem importar o valor da vida das pessoas que vivem nestes territórios, incluindo crianças e adolescentes. Na política de segurança pública do Rio de Janeiro, o que determina quem morre e quem é protegido pelas forças de segurança do Estado é o CEP.
O que precisamos para garantir o presente e o futuro das nossas crianças é um Rio que prioriza a proteção e o cuidado integral, que coloque as vidas das pessoas acima de todas as demais preocupações, uma política de segurança pública que não tenha o confronto armado como principal estratégia de combate ao crime organizado. Uma cidade que não aceite a morte de crianças como efeito colateral de uma guerra armada completamente evitável e sem objetivos claros, e que resulta no extermínio de pessoas negras e faveladas. O que as crianças do Rio querem é, antes de tudo, ter seu direito à dignidade garantido desde o começo da vida. Para isso, é necessário vontade política.
A única forma de chegarmos ao futuro de maneira digna é protegendo o bem-viver de nossas crianças e adolescentes no presente. E é por isso que lutamos todos os dias. É a fé nas crianças que nos faz continuar acreditando todos os dias “que a vida devia ser bem melhor e será”, como cantou o poeta Gonzaguinha.
*THAIS FERREIRA é uma mulher preta, mãe e cria do subúrbio. Especialista em políticas públicas para maternidades e infâncias, atualmente é vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL Carioca, Presidenta da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Comissão Especial de Combate à Violência e ao Racismo no Ambiente Obstétrico.