O revés na política mundial no ano que promete ser movimentadíssimo
O contexto nos impele a uma necessidade de lutar com maior força pela consolidação da democracia e consequentemente das liberdades.
O ano começou movimentado e agitando o noticiário mundial, antes, durante e principalmente após a posse do presidente Donald Trump. Daí ele seguiu em uma corrida desenfreada para atuar para consolidar uma pauta central da sua campanha e agora do seu governo, a deportação de imigrantes ilegais – antes a retórica era somente aqueles que tivessem cometido crimes, mas o que estamos vendo é que a intenção era fazer um espécie de “limpeza”generalizada – embora a lei norte-americana não tipifique a presença ilegal no país como crime, mas sim como infração, isso parece não ser levado em conta nesse momento.
Após Trump assumir o poder, alguns comportamentos já podem ser observados, “lobos solitários”, estimulados pelo sentimento de autorização que o discurso “trumpista” evoca, iniciaram um arremedo de caça às bruxas, tendo até crianças como alvo, agindo como se fossem extensão da autoridade maior e com uma missão a cumprir, alimentadas, não só por um discurso ideológico, mas principalmente pelo sentimento supremacista que avança com cada vez menos receio.
Essas pessoas se veem no direito de denunciar suspeitos, pedirem documentos a imigrantes que estão nos metrôs ou estabelecimentos comerciais, denunciam crianças imigrantes, que têm dificuldade de falar inglês nas escolas(?!) um verdadeiro cenário de horror.
Quem tem o mínimo de lucidez se pergunta qual será o efeito disso, a médio e longo prazo, em uma sociedade completamente dependente dessa mão-de-obra, e com a cultura latina e hispânica completamente assimilada?
O Prêmio Nobel da Paz, Elie Wisel, disse certa vez que nenhum ser humano é ilegal. Pelo menos não deveria ser, não é? O contexto é assustador, mas não nos causa surpresa, tendo em vista a guinada à direita que o mundo vem dando.
Para além desse absurdo, Trump busca produzir uma guerra comercial com os maiores parceiros econômicos, ameaçando com taxações abusivas e arrogantemente afirma, usando a reedição do bordão “drill baby drill” – utilizada pelos Republicanos desde 2008, colocando o país em uma corrida na contramão da luta pela sobrevivência do planeta, alardeando que vai buscar ainda mais petróleo.
Para isso, promove uma disputa por territórios (Groenlândia, Canadá, Gaza, Canal do Panamá) que já se sabe possuem para Trump uma importância econômica e de segurança nacional. Já pudemos sentir por aqui a realidade das decisões e um ensaio de crise diplomática ou, pelo menos, um forte descontentamento com a chegada dos brasileiros deportados em condições terríveis .
A tensão com o México, a importância do Brasil e a sua posição nos BRICS nesse cenário, mesmo com todos os desafios internos, é de grande relevância na articulação de um diálogo mais amplo sobre a soberania do bloco, que tem a sua aliança trumpista com Argentina e El Salvador, por exemplo, e tudo o que isso significa, não apenas para o México, mas também para os demais países do sul global.
Não há dúvidas de que esse ano promete ser movimentadíssimo, com a extrema-direita anabolizada no mundo, e isso nos impele a uma necessidade de lutar com maior força pela consolidação da democracia e consequentemente das liberdades.