A Folha foi minha escola. Meu sonho de moleque realizado, pra quem era adolescente em plena redemocratização – e insistia em ter esperanças, esse artigo em desuso. Lá eu aprendi quase tudo que sei sobre jornalismo, para o bem e para o mal…

Foi onde entendi que o maior patrimônio de um veículo de comunicação é a sua credibilidade, e onde me desencantei com a vida em redação, mais de vinte anos depois de transitar por várias delas – oito deles, na Barão de Limeira.

O motivo foi este que nos trouxe aonde estamos. Vivi de dentro os acessos de fúria da elite nacional contra Lula, ali encarnados na figura de Otavinho – como a falsa intimidade nos permitia chamar.

Estava no jornal, como editor-adjunto da ilustrada, no dia em que Lula pediu licença ao Seo Frias e levantou-se da mesa de almoço, no andar da diretoria, depois de ser seguidas vezes desrespeitado por OFF – uma das manias entre os “coleguinhas” era nos chamarmos pelas iniciais.

Na prática, Otavinho insistia em dizer a Lula [olho no olho] para colocar-se em seu lugar: se tinha pretensões de ser presidente, porque não foi estudar? Como esperava atuar na política internacional se sequer falava inglês?! No mínimo uma descortesia, para com um candidato a presidente com chances reais de vitória.

A partir deste dia, o jornal desfigurou-se. e até a ilustrada foi cobrada de combater a hipótese da presidência de Lula – num dos momentos mais tristes e decepcionantes que já vivi em três décadas de carreira, ao ver um título de capa de reportagem (que já tentava forçar a mão para queimar a gestão Marta e atingir Lula e o PT) na ilustrada ser virado do avesso, pra dizer o contrário do que a apuração mostrava. [afinal, a maioria das pessoas só lê o título mesmo…]

Foi um marco, pra mim. O início do fim de uma era, que só fez esfarelar a reputação e, por decorrência, o negócio da comunicação – o último passaralho na editora ABRIL, em sua mirada para o abismo, que o diga.

Foi quando caiu a ficha [ainda embebido em certa ingenuidade, talvez], de que o jornalismo [como, de resto, a justiça] tem lado, sim, e que a balela da “isenção” e da “objetividade” precisaria ser encarada.

Tenho cada vez mais convicção disso: o problema não está em ter lado, mas em não admiti-lo com clareza.

Para sobreviver hoje, um veículo precisa de coragem para assumir seus posicionamentos – que são, evidente, os do dono. a diferença é que alguns donos são mais espertos, e sabem manejar isso na direção dos interesses negociais.

A Folha começou a se perder, como quase todos os veículos, quando a nova ordem digital desestabilizou a lógica e implodiu os paradigmas. mas já seguia um rumo claudicante quando deslumbrou-se com seu “poder” ilusório e deixou a empáfia e o preconceito de classe tomarem conta dos caminhos editoriais e negociais.

Terei pra sempre toda gratidão pela oportunidade – e, indiretamente, o suporte de OFF, que me encorajou a investir na cobertura teatral, como repórter e [veja só o disparate, para um menino de 19/20 anos] “crítico”, numa área que ele acompanhava de perto como “candidato a dramaturgo”.

Seguirei mantendo meu respeito a ele pela inteligência, a tenacidade e o papel importante que desempenhou [aprofundando diretrizes definidas pelo gênio de Claudio Abramo] nas Diretas Já – mesmo que, naquele momento, fosse o mais conveniente para o caixa. é pena que o bom-senso [ao menos para os negócios] tenha se perdido pelo caminho.

A #PERGUNTAqueNÃOquerCALAR é: o que será da Folha agora, nas mãos do irmão que sempre cuidou da área comercial?

Torço, de verdade, pra que seja uma chance de retomar seu rumo.

#ripOFF