O Pós-Desenvolvimento da COP 30 Amazônia
Pós-desenvolvimento critica modelos coloniais e destaca a Amazônia como sujeito político e criador de alternativas
Por Gustavo Nunes para Cobertura Colaborativa Mídia NINJA
A perspectiva de Pós-Desenvolvimento afirma que o desenvolvimento, como surgiu no pós-Segunda Guerra Mundial, é uma construção ocidental, carregada de premissas coloniais e capitalistas. Esse modelo rotula povos e territórios como atrasados, criando hierarquias civilizatórias entre Norte e Sul Global.
Em vez de “consertar” o desenvolvimento, o Pós-Desenvolvimento propõe imaginar mundos alternativos, valorizando sistemas já existentes de vida, economia, política e natureza. A Amazônia tem sido historicamente tratada como um estoque de recursos minerais, de madeira e hídricos, além de um vazio demográfico a ser integrado ao mercado global.
Por exemplo, assentamentos iniciados através de projetos de mineração e agronegócio dentro da região Norte reproduzem o ideal de “modernização” colonial por tantos anos implementado por potências estrangeiras. Esses projetos forçam o território amazônico a caber em categorias externas, ignorando cosmologias próprias de indígenas e ribeirinhos.
O desenvolvimento sustentável ou a “bioeconomia verde” continuam presos à ideia de mercantilizar a natureza, apenas com roupagem ecológica. O Pós-Desenvolvimento enfatiza alternativas ao desenvolvimento, e não um novo desenvolvimento.
Na Amazônia, essas alternativas já existem, como os sistemas agroflorestais indígenas e ribeirinhos, a autogestão territorial de povos tradicionais, e os princípios de Bem-viver dos povos originários. A região não é laboratório; ela já pratica outras formas de vida que não se encaixam no capitalismo desenvolvimentista.
A COP 30 reforça mecanismos de financiamento internacional que continuam baseados em lógicas de mercado e métricas de carbono. Ela representa não só uma oportunidade de captar mais financiamento para a Amazônia, mas também um momento para repensar quem define “desenvolvimento” na Amazônia, se são países do Norte Global, bancos internacionais ou os próprios povos amazônicos.
As iniciativas de financiamento internacional para a Amazônia anunciadas na COP podem ainda reproduzir relações de poder hegemônicas. Caso os países amazônicos aceitem esse modelo, há o risco de que as agendas sejam definidas por grandes instituições financeiras externas, e não pelas prioridades dos povos amazônicos.
Em contraste, o webinário organizado pelo Ministério do Planejamento e Orçamento durante a COP 30 para capacitar gestores locais para captar financiamento internacional é um movimento pós-desenvolvimentista interessante: permite que os atores amazônicos ampliem sua autonomia, participando mais diretamente da arquitetura financeira internacional.
Para que a COP 30 tenha um impacto pós-desenvolvimentista real é necessário garantir participação política efetiva das comunidades amazônicas nos mecanismos criados, e não apenas executar projetos para elas. Assim, a Amazônia aparece não como objeto de intervenção, mas como sujeito político capaz de oferecer horizontes de mundo distintos daqueles produzidos pela modernidade ocidental.