O Mito Marta e a acomodação brasileira
Entenda como a melhor jogadora do mundo ilustra a falta de renovação no elenco brasileiro
Por Marina Borges | Copa FemiNINJA
O Brasil tem a jogadora eleita seis vezes como melhor do mundo, a qual também é a maior artilheira da história da seleção canarinha, ultrapassando Pelé. Nem Cristiano Ronaldo nem Lionel Messi, Marta é a dona desse feito único. A alagoana representa hegemonia mundial tanto entre mulheres quanto homens, e fica cada vez mais difícil dimensionar o que a craque representa pro país, pro mundo e, principalmente, pro futebol feminino. Apesar de desvalorizada, a modalidade atingiu um outro patamar com a presença da brasileira, que vem deixando um legado de força e inspiração para milhares de meninas ao redor do globo.
Da consolidação à idolatria
Quando surge uma atleta como a Marta, o mundo para. Não porque não existem outras jogadoras talentosas, pelo contrário, há muitas “Martas” mundo afora, inclusive em território nacional. Porém, sobreviver do futebol feminino e conseguir se destacar por meio dele é tão raro que, quando acontece, caracteriza-se como um fenômeno. O Brasil ama a jogadora seis vezes eleita melhor do mundo, mas parece não querer ver outras figuras femininas no topo, simbolizando o sexo forte e não o frágil, que acompanhou as mulheres por tanto tempo. Este é um ponto a ser destacado: é muito importante ver jogadoras de futebol ganhando espaço, virando ídolas e se consolidando em um meio tão machista, mas, por outro lado, a falta de renovação no elenco é algo que persegue a seleção brasileira há um bom tempo e retarda o processo de desenvolvimento da modalidade.
Os reflexos de um ciclo vicioso
Formiga, Marta e Cristiane: para muitos, a tríade perfeita. Realmente, o Brasil tem o privilégio de poder contar com esse trio experiente e de extremo poderio técnico durante tantos anos. Entretanto, essa situação aponta para um agravante dentro da seleção: a falta de renovação no elenco como consequência de um ciclo vicioso.
A convocação para o Mundial deste ano trouxe ‘caras novas’, mas também mostrou a dependência que sofremos de craques antigas. O esforço que a Marta vem fazendo para se recuperar de uma lesão muscular na coxa esquerda, às pressas, ilustra essa situação. Para poder compor o time que enfrentará a Jamaica na estreia da Copa do Mundo, a camisa dez está submetendo a várias sessões diárias de fisioterapia. Obviamente, quando se tem atletas desse porte no time, há o desejo de poder contar sempre com eles, porém, a questão tem que ser analisada de forma mais profunda.
Se a equipe brasileira tivesse tido uma renovação nas peças do time ao longo dos anos, Marta poderia respeitar seus limites físicos e até ser poupada no primeiro jogo, caso não estivesse 100%. No entanto, a presença da alagoana é mais que desejável, é imprescindível – o que evidencia o quadro preocupante que vive a seleção canarinha.
O Brasil se deu ao luxo de abrir mão do investimento em novos talentos e da consolidação de novas peças-chave ao longo da última década e vem sentindo o impacto que essas ações estão gerando. Agora, não é mais possível fechar os olhos para um fato: o trio brasileiro já consagrado jogará sua última Copa junto neste ano e, mais do que só questionar, a pergunta “o que será da seleção brasileira sem Formiga, Marta e Cristiane?” tem que ser respondida. Por meio de atitudes que impulsionem o desenvolvimento do futebol feminino desde a base até a categoria adulta, a modalidade poderá colher frutos num futuro não muito distante e passar a ser mundialmente reconhecida e valorizada.