Ainda estou impactada pelo que vivi no último final de semana no MEL – Mulheres em Luta, festival organizado pelo Instituto E Se Fosse Você. Já estive em muitos eventos e movimentos ao longo da minha militância, mas o MEL foi diferente. Foi uma das experiências mais bonitas que já vivi na política.

Ali, vi a força de uma geração que, desde a Primavera Feminista e o Ele Não, colocou o feminismo e o progressismo no centro da agenda do país. Vi nos olhos daquelas mulheres — muitas jovens, muitas negras, vindas de todos os cantos do Brasil — a continuidade e a renovação de uma luta que pulsa.

Acompanho essa transformação de perto desde que entrei na universidade. O movimento estudantil que encontrei, majoritariamente masculino e elitizado, foi sendo tomado por uma mulherada ousada que mudou tudo. Essa mudança não ficou restrita às universidades — ela chegou às ruas, aos parlamentos, às políticas públicas.

Claro, tivemos derrotas no caminho. O conservadorismo cresceu e se fortaleceu. Mas também tivemos vitórias. Elegemos uma geração de vereadoras, deputadas estaduais e federais que transformam, todos os dias, o espaço político. Isso importa. Representatividade não é tudo, mas é muita coisa. E mais: o feminismo virou a antítese clara do bolsonarismo. Não à toa a violência política de gênero aumenta contra as mulheres que ousam contrapor essas ideias. Por isso, já era hora de uma rede de proteção e apoio às mulheres como a que se formou no MEL. É muito duro ser mulher na política — resistir às inúmeras tentativas de silenciamento é o que nos cabe. Onde o conservadorismo grita, as mulheres respondem com organização, resistência e proposta.

Esse movimento não é só nosso, é global. Em uma mesa do MEL, ouvi a pesquisadora Alice Evans refletir sobre como homens e mulheres, em diferentes países, têm se posicionado de forma distinta sobre os rumos do mundo — e como as subjetividades masculinas tendem a aderir com mais força às ideias conservadoras. A análise é dura, mas ajuda a entender por que a resistência tem rosto de mulher.

Também saio animada com os avanços em políticas públicas. Participei de um diálogo com a secretária nacional de Cuidados, Laís Abramo, sobre a política recém-aprovada no Congresso que reconhece o cuidado como um direito coletivo — e não uma responsabilidade exclusiva das mulheres. Um passo concreto para repartir o trabalho de cuidar e construir uma sociedade mais justa.

Volto com o coração aquecido por esse verdadeiro enxame de abelhas — novas e antigas companheiras de luta, vindas de todas as regiões. Mulheres que me inspiram. Mulheres como minha amiga Manuela D’Ávila, que lidera a construção do MEL e segue fazendo política com P maiúsculo.

Viva as abelhas do MEL. Que a gente siga fazendo barulho, organizadas e incansáveis.